quinta-feira, 18 de março de 2010

sexta-feira, 12 de março de 2010

O canudo

Ele vai segurar o canudo com as mãos que tanto lutaram para que aquele momento finalmente chegasse.
Ela vai observar tudo de longe, talvez em sonhos, engolindo a seco as tormentas que viu passar sem poder apressar o fim.
Eles vão comemorar juntos, como mais uma das grandes conquistas que nos esperam e nos esperarão ao longo da vida.
Eu vou morrer de orgulho, porque é isso o que eu consigo sentir.
Ao meu pai e a minha irmã, minha eterna admiração por acreditarem um no outro. E a eterna certeza de que eu acredito neles com toda a força que guardo em mim.

quarta-feira, 3 de março de 2010

O aniversário do avô

O cabelo visivelmente branco não escondia nenhum fio da juventude que ali estivera. Tinha uma maciez impressionante. Tocar nele, era como deixar fios de seda acariciarem levemente a ponta dos dedos. No rosto, algumas rugas, um bigode bem formado e um sorriso tão presente que eu sequer imaginava como era a sua expressão de raiva ou de mágoa.
Foi assim que vi meu avô soprar a vela dos seus 82 anos, cuidadosamente arrumadas no bolo pela companheira de 55 deles. Eu queria ser ele naquele momento, no auge de uma maturidade que só os homens verdadeiramente bons e fortes conseguirão atingir.
Era nele que eu me abrigava na infância. Perdia horas e horas rindo de suas histórias e dando passeios maravilhosos, que só lembro porque ele nunca esqueceu. Nas fotografias, registros de cumplicidade que nos pertenceu quando tudo o que eu mais queria era andar na areia e pedir um picolé - o Itu, o maior de todos.
Sempre me senti tão feliz ao lado daquele avô, que me culpei por ter crescido. Ele não, ele não mudou. Não fosse a fisionamia, eu poderia jurar que é o mesmo dos meus seis anos de idade, a quem eu esperava com ansiedade quando via o ônibus da Pluma chegar em Araranguá.
O tempo nos faz e desfaz, transforma nossos sonhos. Mas os dele não. Ele estava li, firme na sua pureza, aos 82, como estivera aos 30, 40, 50.
Eu me segurei pra não chorar quando o vi, tão menino, soprando forte as velas do bolo. Era muita história, muita vida e muito sentimento aprisionado naquele instante. E ele se pôs, leve como uma pluma, a esperar calmamente a chama do fogo cessar. Por isso eu lhe amava tanto: por ser vida, paciência e coragem. Por ser pura e simplesmente aquele homem que me ensinaram a chamar de vô.

segunda-feira, 1 de março de 2010

O tamanho da dor

O tamanho da dor vai depender da leveza com que você espera ela passar. Talvez sentado e paciente. Talvez firme e ponderado. Talvez aflito e indeciso. Talvez sem pensar, o que sempre parece uma boa opção.

O tamanho da dor vai depender das suas companhias. Do quanto elas te façam rir e gargalhar alto, sufocando a tristeza e a angústia. Do quanto elas consigam te manter afastado dos problemas. Do quanto elas te façam minimizar as dúvidas só por se fazerem presentes.

O tamanho da dor vai depender do quanto você pensa sobre ela. Se muito, ela tenderá a aumentar e te engolir. Se pouco, ela poderá te surpreendar. Se apenas o necessário, ela se manifestará, provavelmente, num domingo chuvoso ou numa quarta-feira de cinzas.

O tamanho da dor vai depender dos outros sentimentos que você somar a ela. Pode ser a saudade, o que é absolutamente comum. Pode ser a raiva e o orgulho, o que tende a fazê-la piorar. Mas pode ser simplesmente o amor. Nesse caso, o melhor é deixá-lo passar.

A bem da verdade, o tamanho da dor depende do quanto você precisa dela. Quando ela for inútil e desnecessária, descarte-a impiedosamente. Quando ela te ajudar a olhar pra frente, mastigue-a pausadamente. Pense. Chore. E siga.