quinta-feira, 28 de outubro de 2010
Micro-conto casual
segunda-feira, 25 de outubro de 2010
Ex.
Tem ex que é pra sempre, por mais que esse conceito esteja definhando no complexo dicionário do amor.
É pra sempre porque não importa se você esteja só ou acompanhada, vai lembrar da forma como ele sorria ou segurava a sua mão quando você sentia medo.
É pra sempre porque não importa quem seja a atual namorada, vão lembrar de você quando pensarem nele e no quanto vocês poderiam ter sido felizes se fossem mais pacientes um com o outro.
O seu eterno ex-namorado é aquele por quem a sua mãe, a sua avó e a prima do seu cunhado perguntam sempre, independente de quantos tenham vindo depois dele.
Ele é aquele que te remete pros melhores anos da sua vida, que geralmente só foram os melhores porque você tinha a melhor companhia para vivê-los.
Ele é aquele que você vai encontrar com um sorriso no rosto, não importa o tempo ou o quanto tenham magoado um ao outro no momento do adeus. Por ele você consegue chorar de dois em dois anos, quando inesperadamente lembra o que vocês poderiam estar fazendo juntos.
O melhor ex-namorado da sua vida é o homem que você encontrou no momento e no tempo errado, por mais que tenham feito tudo certo, por mais que tenham sido felizes nos instantes em que tinham que ser.
É o homem que você sabe que ainda poderia estar ao seu lado, não fosse um capricho da máquina da vida, que insistentemente achou que você precisava dele no seu passado, pra lembrar porque não deu certo. Pra tentar fazer dar certo depois.
Ele está lá, parado nos lugares em que foram um do outro, com a figura cada vez mais imponente, viva, bela e inatingível. E sempre que você pensar nele, vai sentir um amor dolorido, que consegue ser mais bonito do que os amores eternos, simplesmente porque é baseado na falta que sentem um do outro.
O melhor ex-namorado da sua vida não é um fantasma. Pelo contrário. É o homem por quem você deve suspirar aos 80 anos, mesmo que ele esteja a caminho do quinto bisneto. É o homem que você carrega em todos os seus sonhos. É o homem que te faz bem, por mais que o tempo tenha passado e o vento tenha levado vocês para cada vez mais longe.
O dia em que você reencontrá-lo, se é que deixou de vê-lo, seu coração vai bater forte, sua perna vai tremer como se você estivesse diante de uma nova paixão. Mas não está. Você está diante daquele cara por quem seu corpo sempre vai balançar porque viveu o melhor do amor ao lado dele. Você está diante do melhor ex-namorado da sua vida, aquele que você carrega feito pluma, embora pese toneladas de memórias na complexa balança do amor.
domingo, 24 de outubro de 2010
O herói e eu*
Ele não tinha nenhum superpoder que o distinguisse dos outros tantos homens fortes que moram nesse planeta. Mas era nascido na última lua de libra, sob um signo que moldou sua personalidade, ainda que desconfiasse de astrologia e outras "ciências afins". Sua capacidade era a de curar, de regenerar e renascer. Porque aos 31 anos se especializara em dar solavancos persistentes na vida. Nada o abalava tanto que não pudesse superar. Nada o martirizava tanto que não pudesse esquecer. Talvez por isso fosse tão difícil enxergar nele uma emoção secundária. Era feito de extremos e de silêncios contínuos. Acostumara-se a falar pouco, mas conseguia se fazer ouvir como ninguém. A voz de quem é necessário e essencial.
Ele foi o primeiro homem que eu não encontrei adjetivos para definir, embora persista com a ideia recorrente de biografá-lo. Porque ele foi o primeiro e talvez o único que tenha me convencido a chorar de alegria por tê-lo perto de mim. Porque foi o primeiro herói-humano que vi voar sem precisar de asas, de poderes, de alavancas. Porque era alguém que me bastava por ter me ensinado a amar de um jeito desconhecido e exageradamente suave.
Meu herói existe e agradeço todos os dias por ter cruzado com ele, num dia daqueles em que tudo podia ter sido normal e não foi, simplesmente porque decidimos nos encontrar.
*de presente, atrasado
terça-feira, 19 de outubro de 2010
Em menos de 140 caracteres
quinta-feira, 14 de outubro de 2010
Sobre um adeus
Encerrou a conversa naquela noite, inspirada por dezenas de sonhos e pesadelos que lhe penetravam como uma agulha cravando forte na pele já machucada. Porque desde muito cedo aprendeu a conviver com sentimentos de mentira e descartá-los como mereciam: inutilizando-os, deixando-os mortos em um canto escuro e trágico da sua memória cada vez mais embrutecida.
Cansou de ouvir que o tempo daria um jeito em tudo. O tempo não era o seu senhor. Não devia nada a ele e não podia contar com ele. Podia contar consigo, com as suas certezas. E só conseguia repetir, alto, que não tinha mais nada a fazer. Que tinha lutado contra todos os moinhos de vento. Que tinha erguido e reerguido peças de um castelo cada vez mais irreconhecível.
Queria saber em quais verdades assentara aquilo que acreditou eterno. Se na firmeza das próprias convicções ou na clareza que os momentos conturbados acendiam. Se no olhar zeloso e no afeto que lhe transmitia. Se em tudo ou em nada disso.
Precisava descobrir se fora tudo real como um dia imaginou ou se teria colhido mais uma decepção no campo dos sentimentos que morrem porque simplesmente não conseguem se fazer eternos. E dessa vez não era o tempo que iria lhe ajudar. Não eram as milhares de palavras que trocavam e ficavam pairando no ar, sem nunca construírem uma página sólida o suficiente.
Precisava ir embora com toda aquela tormenta que passara a carregar nas costas quando imaginava que tudo era definitivo. Porque de um dia para o outro entendeu que não era a responsável por manter de pé qualquer sentimento que pudesse morrer. Porque encerrou aquela conversa com uma frase pontual, que começara e terminara com um adeus.