terça-feira, 28 de dezembro de 2010

ABC de 2011

Aprender, andar, acreditar e amar.Beijar, buscar. Cumprir, construir, crescer e crer. Deixar passar, demorar, desculpar. Ensinar, encontrar, esquecer. Ficar, fluir. Gostar. Honrar. Intrigar. Jogar. Ler. Morar, madrugar. Negar. Ouvir. Perceber, pedir, projetar. Querer. Rir, reconstruir, renascer. Sonhar, sentir e sorrir. Ter. Unir. Viajar, voltar, viver. Ver. Vencer.

domingo, 26 de dezembro de 2010

Tempo errado*

Ele olhou firme nos olhos dela e começou a recitar um soneto que ela ouvira outras centenas de milhares de vezes, sempre com o mesmo sentimento de perda, de agonia e de escuridão. Sim, ela era perfeita como devia ser. Gostavam de dançar, de rir juntos. Gostavam de conversar, mudos, debaixo da árvore. Gostavam das mesmas coisas, inclusive um do outro. "Mas não é o momento certo. Eu preciso ficar sozinho. Eu não posso me envolver agora. Não conseguiria ficar com você assim. Você é muito especial para isso". Era um poema que ela sabia de cor, porque também já tinha declamado na porta de casa para o homem que poderia ter marcado a sua vida para sempre, mas que foi embora porque ela pediu. "Olha, eu não estou pronta para me envolver. Estou cheia de dúvidas, de medo. Não quero te enganar". Era o diálogo padrão de quem amou na hora e no tempo errado. Que desajustou o relógio. Que não conseguiu esperar. Que carregou tristezas e nóias e neuras para uma história que poderia e merecia ser outra. Era um diálogo daqueles que se repetiria milhares e milhares de vezes na vida dele, na vida dela e de outros tantos apaixonados que se desencontraram. O soneto - o triste soneto - lhe embalava as noites de medo, de bossa e de fossa. Até que ela encontrasse ele com outra. Alguém que não era perfeita como ela, mas que apareceu no momento exato em que o coração dele se abriu. Simples assim. Daí que ele continuou falando. Ela continuou ouvindo. Os dois se entenderam como mágica. Ela chorou. Ele se arrependeu. Passaram-se dias, meses, anos. E eles contaram essa mesma história tantas outras vezes. A história do amor que deu certo no tempo errado. E que por isso morreu.

*livremente inspirado histórias que eu vi, vivi e ouvi.

sábado, 25 de dezembro de 2010

Dançar a dois

A gente dança num ritmo quando está sozinho.
E dança noutro quando está junto.
O grande segredo da vida é conseguir sincronizar os passos.
É sabe ir pro mesmo lado que o outro vai.
É conseguir não exagerar no ritmo,
Não extrapolar na música,
Não desafinar o giro.
Eu vi você dançando sozinho.
Te senti mais leve, mais solto.
Você me viu dançando sozinha.
Percebeu que ainda bailo no ar, distante,
Submersa,
Descompassada.
A gente não dança junto porque não quer.
Ou porque não sabe.
Ou simplesmente porque não dá.
E é assim que eu explico quando me perguntam.
E é assim que eu resisto ao nosso erro,
A nossa dança,
A nós dois.

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Um brinde às madrugadas

Porque você brindou a mim, eu brindei a você.
E caminhamos juntos pelo salão desocupado,
Rindo um do outro,
Sonhando um com outro,
Fazendo planos e mais planos pros próximos verões.
Você me puxou pela cintura
E eu então me entreguei, leve feito pluma,
Rindo como se minha alegria jamais pudesse acabar.
Nós brindamos ao sol, à lua e à madrugada do nosso reencontro.
Brindamos à ausência do medo, porque tudo era seguro quando estávamos um no outro.
Eu brindei ao jeito que você me olha,
Ao jeito que você me toca,
Ao jeito que você me conquista, gole a gole.
E nós então nos desfizemos das máscaras,
Das inseguranças,
Dos surtos,
E conseguimos brindar a nós.
Nós.

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Cena final

Deixou que a franja caísse no canto esquerdo do rosto, misturando-se com leveza e precisão à lágrima que lhe cortava a alma. Como podia doer tanto? - era só nisso que ela conseguia pensar no instante em que as mãos firmes dele tentavam afastar seu cabelo e enxugar sua tristeza gota por gota. Como alguém que lhe fez sorrir tantas vezes conseguia agora lhe provocar essa enxurrada de agonia e de indefinição? Por que as gargalhadas tinham que cessar e ceder espaço a esse soluço que lhe partia inteira? Por que ela não conseguia decidir racionalmente e precisava temperar o que nem era uma despedida com tanto drama e desalento?
Subiu as escadas tonta, prevendo a tormenta do dia seguinte. E dos demais. Pensou tê-lo visto suspirar, sem saber se de angústia ou de alívio. Sem saber se tudo era fruto da sua imaginação. Na verdade, ele se mantinha inerte, sem mexer as mãos, os pés ou esboçar qualquer expressão. O que ele poderia entender, afinal? Eram delas todas aquelas coisas que se punham entre eles. Era dela a dúvida. E eram delas as lágrimas. Todas as lágrimas.
Não sabia pronunciar a palavra que deveria. Temia que saísse sem pensar. ADEUS. Era isso mesmo o que queria? Era disso que precisava? Por que tantas interrogações naquela hora da madrugada, com as estrelas testemunhando tudo?
Deitou pacificamente, tentando alinhar a franja que lhe impedia de ver, tentando esgotar as lágrimas que lhe turvavam, tentando fechar o olho e sonhar. Simplesmente sonhar. Um sonho bom, daqueles que ela pensou que poderiam viver um dia.

sábado, 18 de dezembro de 2010

Equação do amor

Ela não iria ensiná-lo a amar. Nunca.
Amar não se ensina.
Amar se aprende.
Simples como uma equação de álgebra.
Complexo como uma equação de álgebra.
Na dela, um mais um sempre seriam dois. Os dois.
Na dele, somar era tarefa impossível.
Por isso virou as costas sem entender muito bem aquela modesta matemática que lhe matutava dia e noite.
Por isso deixou-o calcular, sozinho, a equação da sua perda.

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Amar certo

Amou errado uma, duas, três vezes, para só então conseguir acertar.
E acertar era perceber que a pessoa ideal não precisava ser aquela que lhe atraía o primeiro olhar, que lhe fazia dormir pensando em como seria o dia seguinte ou que lhe provocaria rios de lágrimas quando fosse embora definitivamente.
A pessoa ideal era aquela com quem ela sorria o tempo todo, que lhe tirava do lugar comum da paixão porque não causava frio na barriga, que lhe ajudava a crescer todas as horas, todos os dias, estivessem eles na Terra ou em Júpiter.
Demorou para entender que o melhor do amor está nas histórias compartilhadas, não na tremedeira desenfreada que se abate sobre o corpo depois de um esbarrão acidental. Está nas horas de silêncio e total sintonia, com as almas esperando uma pela outra, pra se encontrarem pausadamente em um dia de chuva.
Amar certo, para ela, adquiria um sentido cada vez mais diferente do que supunha. Era não esperar nada além de um grande abraço e de um sorriso reconfortante para fazer disparar o que tem de melhor. Era viver alegre e sem medo. Era saber que o seu amor de hoje só se tornou eterno porque soube lhe mostrar um caminho novo, um caminho deles, o melhor caminho. Era ter a pessoa certa para descobrirem um no outro porque erravam tanto. Era vê-lo partir ou ficar e ter sempre a convicção de que finalmente acertou.

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Diferentes

Que bom que somos assim tão diferentes.
Eu rio, você chora.
Eu danço, você canta.
Eu calo, você fala.
Eu mudo, você permanece.
Eu me encontro, você se perde.

Por sermos assim, tão diferentes, estamos aqui em sólidas posições.
Eu observo, você atua.
Eu acordo, você adormece.
Eu penso, você esquece.
Eu tenho pena, confesso. Você apenas erra.
E por errar, é meu acerto.

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

28

O segredo para chegar aos 28 sem um fio de cabelo branco é se permitir errar porque sempre há tempo para corrigir suas dezenas, centenas ou milhares de falhas.
É dormir pelo menos cinco horas por dia ou quem sabe um pouco menos, se você dedicou a noite anterior a algo realmente agradável.
É comer sorvete e chocolate sempre que te dê vontade, mesmo que aquela gordurinha lateral teime em não te deixar usar aquele vestido justo encostado no cabide.
É sorrir só pra quem merece. E que muitos mereçam, porque não há melhor remédio do que abrir os lábios com o coração.
É chorar sempre que o momento exija, porque as lágrimas te revigoram a pele e te poupam das rugas dos maus sentimentos guardados.
É não se arrepender, não se lamentar, não ter medo dos golpes e dos riscos da vida.
É se sentir em paz sem esforço, ainda que exista uma bagunça voraz dentro de você.
É amar cada milímetro de quem mereça e se cercar desse mesmo amor.
É sofrer e entender.
É se entender.

*O segredo de chegar aos 28 anos com a certeza de que os 98 serão ainda melhores é estar cercada de gente que te ame e te leva pra frente:

Um pai que saiba quando você está doente e te ligue subitamente pra saber se está tudo bem. Que dirija 300 quilômetros ou mais para que você chore tudo o que puder no colo dele.
Uma mãe que te lembre o quanto você é "nova, bonita e inteligente" pra perder tempo com quem não vale. Que te leve pra tomar cerveja e volte gargalhando no carro.
Uma irmã que saiba tudo de você, até os segredos que você não divide.
Pelo menos uma grande amiga pra te ligar bêbada de madrugada e dizer o quanto você faz falta. Outra pra te tirar de casa quando você está naquela TPM infernal.
Pelo menos um grande amigo pra te dizer que você é muito mais bonita do que a outra. Que te leve pra almoçar, jantar e sorrir. Que te repita sempre as mesmas lições, aquelas que você só vai aprender aos 40. Ou 80, se for teimosa demais.
Um bom médico pra gastrite e um chefe que não ajude a piorá-la.
Alguém que te tire da bolha e te leve para os lugares mais improváveis do mundo, aqueles que você jurou que nunca ia frequentar.
Alguém que derrube as suas certezas.
Alguém que te deixe nas nuvens.

*Sim, eu tenho esses presentes =)

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

A.

Dormi e acordei com o amor.
Dei bom dia com o amor.
Andei com o amor.
Sorri com o amor.
Vibrei com o amor.
Amei com o amor.

Ah, o amor.
Dói, mas alegra.
Chora e faz cócegas.
Irradia.
Extermina.

Para que sejamos cúmplices pra sempre.
Para que só ele nos cerque.
Para que a gente se entregue a mil quilômetros por hora, com todo o amor que conseguimos cultivar fora e dentro de nós.
Ame.
Amo.

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Sobre ir embora*

Fora embora duas vezes, sempre olhando pra trás, sempre olhando pra si.
Viu pelo retrovisor seus mundos ficarem pequenos até sumirem por completo, diante de um olhar incrédulo de quem sabia que precisava partir.
Deixava sonhos e deixava vida. Pessoas, pedaços, memórias, confissões, crimes.
Costumava se distanciar com uma mistura de alívio e medo, imaginando onde estariam seus próximos passos. Imaginando quem seguiria com ela e que tipo de trajeto teria pela frente.
Acostumou-se com a paz das despedidas, os olhos cheios de água, as mensagens de amor e amizade, os longos abraços, os beijos com e sem gosto, as mãos suadas e calejadas de tanto doer. Porque ir embora sempre era dor, fosse o destino mais ao sul ou mais ao norte.
Sabia que nenhum lugar era o seu. Que andaria por mais de um chão, sempre com a ideia de se fixar, mas nunca com a certeza de que criaria raizes. Que viveria da saudade do que ficou e da esperança do que estaria por vir. Que passaria horas a fio locomovendo-se pelos solos por onde amou.
Nos sonhos daquela menina, ir embora nunca era o começo e nunca era o fim. Era o contínuo. O seu espaço era o andar, muito mais do que o viver. E na profundidade das suas certezas, sempre sabia - sentia - quando a porta estava prestes a lhe engolir, a lhe empurrar para a frente.
Nos sonhos daquela menina - que se tornou mulher de tanto ir embora - deixar pedaços para trás era muito mais importante do que marcar a sua pele com o cavalheiro viajante. E recompô-los no próximo porto era a melhor parte da história.

* Não, não vou embora. Ainda não é tempo.

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Fazer a mala

Sussurou a música que sempre cantava nos momentos de agonia.
Eram versos próprios pra arrumar a mala e tentar organizar toda a bagunça que se alojara na sua alma.
Dobrava o vestido, a saia, a calça, a camiseta, mas não conseguia encontrar lugar para as suas dúvidas.
Vivia de se fazer perguntas sem achar as respostas.
Adorava se questionar sobre o impossível, sobre o imponderável.
Quando conseguia a solução, tratava de se ocupar com outro problema. E depois outro, até cansar.
Conseguiu encaixar um par de sapatos no bolso da frente.
Continuou insistentemente com o refrão. Dizia coisas feitas pra ela, obviamente. Cantava toda a angústia que ela conseguia guardar nos momentos de partir. Fosse para ali perto, fosse para tão longe que ninguém mais pudesse alcançá-la.
Fechou o zíper e lacrou a mala com menos convicção do que nas outras vezes. Pretendia abri-la somente no seu destino final, onde finalmente conseguiria achar espaço pras suas verdades. Era pesada aquela mala. Mas pô-la no ombro era uma obrigação, uma meta. Deixou muito do que queria levar. Levou somente o que conseguia carregar. Parou de cantar a música e deu o primeiro passo.

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

2010

O ano em que eu descobri que há algo lá fora muito maior do que o amor.
Que pode ocupar os teus dias, as tuas tardes e tuas noites com sopros de alegria e de vida.
Que pode te deixar meio boba, meio alegre demais.
Que te faz sentir viva e inteira desde a hora em que acorda.
Que te faz questionar certezas, preceitos, dogmas.
Que te puxa pra cima e pra frente, sempre.
Que te enche de emoção e ocupa todos os teus vazios.
Que jamais te abandonaria, estivesse você aqui ou no fim do mundo.
Que te mostrou o que você não via.
Que te fez rir quando a lágrima parecia estar pronta.
Que te amou do jeito que você sabe qual é.

A quem me ensinou, dedico meu último mês do ano.
O mês dos meus 28.
O mês das retrospectivas.
O mês de agradecer.

Obrigada por estar aqui tão perto.