terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Tempo*

Tempo,
Lento,
Voa.

Sonho,
Doce,
Voa.

Vida,
Brinda,
Voa.

Trecho,
Texto,
Voa.

Medo,
Cedo,
Voa.

Tempo.
Passa.
Voa.

* Na passagem para os 29, cada vez mais completa, complexa, feliz.

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Tudo mesmo

Sei lá o que eu senti quando encontrei aquela figura tão pouco familiar a três metros e cinco degraus de distância, pesando tanto quanto eu queria que pesasse a sua culpa no dia em que os nossos caminhos se desviaram pra sempre. Foi um misto de alívio e contentamento, uma alegria simples por perceber mágoas caindo do colo, mágoas cuspindo entre os dentes, mágoas ficando pra trás.
Tudo o que eu pensei é que não mais precisaria escrever sobre isso, posto que um sentimento findo não é bem-vindo. Mas a caneta rabiscou a primeira ideia sozinha e, então, eu senti que precisava botar pra fora. Eu coloquei pra fora mesmo.
Eu fiquei o dia inteiro absorta em ideias desconexas, pensando se tinha amado em alguma momento da minha existência aquele sorriso tímido que me encontrara sem querer. A vida sempre provoca encontros inesperados pra nos fazer enxergar coisas que estão escondidas dentro de nós. Eu fiquei o dia inteiro flutuando a passos largos, tentando entender o que se configurava dentro de mim, tão dentro que nem eu podia alcançar.
E descobri que tinha execrado um punhado de ódio, de tristeza e de marcas que pensei eternas. Que o meu caminhar ficou mais leve depois disso. E que não existia soluço nenhum amargurando meus sentimentos. Eu sempre soube disso, mas ter a prova é bem diferente.
E nessa viagem de ficar capitulando sentido em palavras, alívio em palavras, eu descobri que não precisaria dizer nada, nunca mais. Nada mesmo. Porque foi ali, descendo aqueles cinco degraus que me separaram de um emaranhado de problemas e decepções, que eu tive a prova viva de que tudo havia passado. E tudo é tudo mesmo. Só eu sei.

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

A espera

O amor vestiu aquela camisola lilás com bolinhas cor de rosa.
Foi até a janela observar o movimento na rua.
Preparou um café bem quentinho,
Serviu-o,
Sorveu-o.
O amor fritou bolinhos de chuva.
Lavou e enxugou a louça.
Guardou a porcelana, pois temeu quebrá-la entre um movimento brusco e outro.
Voltou para a janela.
Regou as flores.
Respirou fundo.
Suspirou mais fundo ainda.
Manteve-se firme, forte, solene.
O amor vestiu aquela camisola lilás com bolinhas cor de rosa para sentir-se confortável nas próximas horas, dias, meses...anos, quem sabe.
Porque a única condição do amor, a sua condição inviolável e legítima, é saber esperar.
E o amor esperou.
E o amor imperou.

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Que seja belo enquanto dure

Pesava muito aquele amor nas suas costas, já tão fatigado por ser inconsequente, bruto, cego e covarde.
Sim, era um amor feio, com a cara amarrada, quase distorcida. Não sabia se era intenso. Se era verdadeiro. Se era humano ou cruel até dizer chega. Pesava tanto que foi se esfacelando duramente, arrastando cacos dos outros consigo, fechando portas, perdendo sonhos.
O amor tinha que ser algo bonito. Não precisava ser conto de fadas, mas tinha que caber em um cenário de sonhos, de mágicas. Sim, o coração tinha que bater mais forte. Não, o coração não precisava se contorcer de dor um dia sim e outro não, na esperança de que as coisas tomassem outro rumo.
No geral, as coisas não tomam outro rumo quando o amor muda de belo, pra feio e torto. Porque um amor ferido quase nunca consegue ser remediado. Não no mundo real, onde vivem homens, seus defeitos e seus problemas. Não há remédios que combatam o amor que se transformou.
Eu fui aceitando que tem amor que nasce bonito e morre uma sombra do que já foi. Que teima com os fatos e com as certezas. Que tenta ser maior do que o mundo, quando, na verdade, pode caber na palma de uma mão pra simplesmente existir.
Não é fácil deixar o amor feio morrer. Há sempre um ímpeto disfarçado de culpa que tenta reabilitá-lo, que põe esperança onde só deve haver certezas, que infla suas partes quebradas tentando mostrar que as está consertando.
Mas o amor deve ser bonito. Se não for, é porque precisa deixar de ser amor. Precisa entrar em latência. Precisa ficar de lado, no canto daquela estante suja de pó.
Que os meus futuros amores (e os seus também) sejam tão bonitos quanto fortes, sólidos, maduros e intensos. Que sejam mais bonitos do que nós, pra espalharem toda essa beleza por aí.

domingo, 13 de novembro de 2011

O lugar comum da dor

Todo mundo já enfrentou um momento de dor que fez arder o estômago.
Todo mundo já se remoeu só de lembrar desse momento: alguns com uma ponta de mágoa, outros com uma dúzia de aprendizados acumulados. Sim, não está errado aprender na dor. A dor e o sofrimento ensinam o tempo todo. E cada grãozinho deles se acumula na nossa memória, na tentativa de que o corpo aprenda a absorvê-los da forma que tem que ser.
Eu aprendi a lidar com a dor conversando comigo, em silêncio, enquanto uma bagunça repentina se apoderava de cada ponta da minha alma. Aprendi a dialogar com as causas do sofrimento. E a aceitá-lo (não sem pressa, não sem ansiedade).
Toda vez que algo em mim doi, eu remexo no tempo e no vento. Procuro as respostas. E me aquieto tentando me agigantar, tentando não temer. Choro sozinha por menos do que uma hora. Me ajeito no novo espaço. E sigo, bem mais profunda do que fora caso a dor não doesse tanto.
Ontem, em um desses momentos em que existe dor, mas alívio; medo, mas paz; sofrimento, mas perseverança; eu cheguei a conclusão de que todos somos fortalezas. Sim, todos somos guerreiros, somos combatentes. Uns se abalam mais, outros lidam melhor com as derrotas e as lamúrias da vida. Mas ninguém morre de dor. O bom mesmo é viver ainda mais tendo a certeza de que ela (sempre) passa.

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Ausência em outras palavras

Citou Vinícius de Moraes porque era a última chance de respirar aquele ar pesado que sentira. Não lembrou que o poeta preferido só cabia no coração dos apaixonados. Dos irremediavelmente apaixonados. Dos desastrosamente apaixonados.
Percebeu que seria incompreendida e ouviu um sorriso irônico, como se entregar-se fosse motivo para zombaria. O som da gargalhada contida imprimiu um eco quente, quase latejante, no fundo de um dos pedaços que, dentro dela, perdiam forma, perdiam cor.
A maior dificuldade do homem é dar adeus. Ninguém dá adeus por querer. O adeus é um ato insano e desesperado de quem quer ir e não pode. De quem quer ir e ficar. De quem já quis ir, mas nunca foi. Daí toda a sua dificuldade existencial em encarar essa palavra com naturalidade. E o seu medo quase imaturo das sequelas que um adeus sempre provoca.
Agora, toda vez que citasse Vinícius lembraria da sombra daquele momento, contornado de rancor, mágoa e de sonhos seus que cerraram junto com os olhos pequeninos e molhados. Logo Vinicius, aquele poeta que escreveu linhas retas pra corações tortos.
"Eu deixarei que morra em mim o desejo de amor os seus olhos, que são doces, porque nada te poderei dar senão a mágoa de me veres eternamente exausto". Repetiu duas, três vezes. Baixinho. Devagar. E deixou que aquele nó se desfizesse dentro dela. E que aquela lágrima escorresse definivamente pela última vez.

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

"Que o coração já quer descansar"

De toda a dor,
De toda a lágrima,
De todo o medo,
Daquele beijo,
Daquele toque,
Daquele espinho,
Daquela sorte,
Daquele sonho,
Daquele início,
De toda a mágoa,
De todo o susto,
De todo o berro,
De todo o nó.
Daquela vez,
Naquela vez,
Uma vez,
Outra vez,
Sempre o mesmo não,
Nunca o mesmo sim,
Sempre aquele fim.
.
.

domingo, 30 de outubro de 2011

Sobre o câncer, o Lula e nós*

* Esse é um espaço em que geralmente escrevo poesia, crônica ou prosa poética. Não dessa vez.

Acordei de manhã e, como de costume, acessei minhas redes sociais para saber os assuntos do dia.
Quase entrei em estado de choque quando vi dezenas de contatos meus compartilhando uma campanha pedindo que o ex-presidente Lula enfrentasse o tratamento do recém-diagnosticado câncer de laringe no SUS. Choque pela falta de sensibilidade. Choque pela ingenuidade política. Choque por imaginar que aquelas pessoas realmente acreditam que estão fazendo algo de bom e de útil levantando publicamente uma bandeira dessas.
Vejamos: Lula é um ex-presidente da República. Isso já é suficiente para despertar ódio e amor em milhares de brasileiros. Tem o grupo que vai idolatrá-lo por ter sido um grande chefe de Estado, o homem que diminuiu a miséria no Brasil. Tem um outro grupo que vê nele a eterna maldição do que já foi uma esquerda, que o vincula a adjetivos como analfabeto, sem diploma e bêbado.
Não vou entrar nos méritos da minha opinião sobre a figura do Lula (até porque, quem está me lendo certamente sabe o que penso sobre ele). Vou, sim, questionar aqueles que vibraram com sua doença da mesma forma que vibram com os casos de corrupção do governo da Dilma, com a possibilidade de o Brasil produzir uma copa de fiascos em 2014 e, no plano internacional, regozijam-se com a morte de Osama e Kadafi como se o fim dos problemas da humanidade estivesse ali, a um passo da tumba dos "monstros".
Gilberto Dimenstein sentiu vergonha. Xico Sá lembrou Nelson Rodrigues. Eu confesso que senti pânico. Pânico de viver em um mundo no qual um homem doente transforma-se, de um dia para o outro, em uma bandeira contra um Sistema de Saúde que aqueles que o mencionam sequer conhecem. Sim, são membros da classe média. Nunca precisaram do SUS. Nunca vão precisar. Mas acham bonito mandar um ex-presidente para lá, afinal, está tão na moda xingar políticos no facebook e no twitter. Eis aí nossa revolução.
Pensei em várias comparações para fazer desde que li as primeiras manifestações. Pensei em pedir que todos que aderiram tal campanha visitem um centro de oncologia e contribuam de alguma forma com ele. Vale até trabalho voluntário. Pensei, também, em fazer uma outra campanha: você já imaginou que o SUS pode ser tão ruim, também, por culpa sua? Sim, é você quem vota. Que escolheu seus líderes democraticamente. E, que, agora, decidiu que a culpa por tudo isso é de uma pessoa só. Um homem que poderia ser seu pai, irmão ou avô. Mas que, por sorte dele, é um ex-presidente reconhecido e conceituado mundialmente, que poderá gastar o que for para pagar o próprio tratamento e não está errado por isso.
Não sei se quem compartilhou a tal campanha teve dois minutos para pensar nessas coisas. Honestamente, quero crer que não. É triste imaginar que alguém possa querer isso de verdade, como se alguma coisa pudesse ser resolvida caso o Lula procurasse o SUS. Acho que uma coisa até poderia ser resolvida: a doença dele. Não a sua. Não a nossa.

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

O que fica

O céu mudara;
O sol mudara;
A estação mudara.

Só não muda o que fica.
Fica o que fica.
O medo.
O choro.
A dor.
A sombra.
O não.
O nunca.

domingo, 2 de outubro de 2011

Percalço

Sonhava em não ter medo, como se o medo fosse um erro.
Amava sozinho e baixinho, como se o amor pudesse ser erro.
Acordava inconstante,
Tremia de frio,
Chorava escondido,
Marcava o tempo,
Esperava o tempo,
Enganava o tempo.
De tanto viver temendo, temeu o que de melhor poderia esperar viver.
Temeu a vida.
Não viveu.

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Amor que dói

O amor que dói é aquele que você não consegue gritar por medo.
O amor que dói é aquele onde não existe esperança, leveza, certeza.
O amor que dói é aquele que você não consegue explicar pro mundo.
Não explica, porque não entende.
Não entende, porque dói.
Pro amor que dói, não existe remédio. Só existe veneno.
E o veneno é a dor.
Que a dor não sufoque, mas cure o amor.
Que a dor não mate, mas acalme o amor.
Porque a dor não pode e não deve ser recompensa do amor.
Porque a dor não merece ser mais densa, mais certa, mais firme que o amor.
O amor que dói é aquele que está preso na garganta, junto a uma lágrima reprimida e a uma constante turbulência.
O amor que dói é aquele que dói até pra escrever.
Que nenhuma dor tire a essência do amor.
Que o amor vença o duelo.
Que floresça na lama, no pântano, na dor.
Que um dia, finalmente, pare de doer.Ou que morra, sem dor.

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Colo

Um sonho,
um grito,
um colo.

Um susto,
um rastro,
um colo.

Um arrepio,
um calafrio,
um colo.

Um medo,
um choro,
um colo.

Um logo,
um breve,
um colo.

Um consolo,
um solo,
um colo.

domingo, 11 de setembro de 2011

Surpresa

Ontem eu adivinhei tudo o que ele ia fazer. Me dar oi, um abraço (talvez tímido), rir ou comentar algo da noite anterior. Depois ia falar com a voz que eu conheço de cor, frases que eu já me acostumei a ouvir e que eu diria de trás pra frente se preciso fosse. Depois ia reagir do mesmo jeito de sempre a alguma gracinha minha. Ia virar o rosto, ia devolver a brincadeira e íamos falar mais meia hora sobre assuntos que sempre se colocam entre nós.
E então eu fiquei pensando por que eu sabia tanto sobre ele. A convivência nos faz captar os gestos, as expressões do outro. Eu conheço cada detalhe do rosto dele quando ele está cansado, feliz ou pouco tranquilo. Conheço as marcas de expressão e os detalhes do movimento que ele faz com as mãos e com os pés quando está parado.
E por conhecê-lo assim, tão bem, sinto falta das pequenas surpresas que ele poderia me causar. Quem sabe uma gargalhada inesperada. Ou um abraço deslocado no tempo e no espaço. Quem sabe um beijo na testa - eis um lugar improvável. Ou um carinho nos meus cabelos quando eu esperava uma advertência ou algo do tipo.
Sem surpresas, a vida é oca. E você é capaz de adivinhar tudo o que vem pela frente. E as tardes podem se tornar monótonas. As noites extensas demais. Tudo porque vocês se conhecem até a alma. E esquecem que a alma precisa de pequenas novidades, de movimentos que não nos permitam frear os sentidos.
O amor é feito de surpresas e de supreendidos. Quem não é capaz de surpreender, talvez seja pouco capaz de amar. Porque o amor é festa, é fantasia, é alegria. E nada disso combina com o tédio de uma situação que você é capaz de prever do início ao fim.

terça-feira, 6 de setembro de 2011

Do arco-íris

Tem dia em que a gente acorda cinza, ácido, áspero.
Em que tem vontade de gritar. Com os outros, consigo.
Em que não tem janela que nos faça espiar a calma lá fora. Tudo está cinza. E só a gente sabe por que.

Mas tem dia em que a vida se mostra em tons exageradamente fortes, vivos, intensos.
E o que era guerra, vira paz.
O que era dor, vira sorte.
O que era momento, vira eternidade.

Nos dias em que você estiver cinza, não se obrigue a ver cores onde não tem. Contenha-se; acalme-se; pondere; reflita.

Porque quando o azul começar a aparecer, o vermelho voltar a despontar, o amarelo surgir na sua janela, você vai ter certeza. Sim, você vai saber. E não tem nuvem de chuva lá fora que te obrigue a recuar.

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

A curva

Um amor que não deu certo é como aquela curva fechada que você viu na estrada dia desses.
Ela estava lá, esperando por você. Ela te levaria para um lugar novo. Bom ou ruim. Com ou sem obstáculos. Mas inteiramente novo. Ela (a curva) estava pronta pra que você pisasse fundo. Pronta pra te ver frear no ponto certo, sem riscos de derrapar, de colidir, de se machucar.
Mas daí você lembrou que a curva era perigosa demais. Que a sua habilitação estava vencida. Que os seus freios não eram assim tão bons. Desacelerou e parou. Você fez o retorno antes de fazer a curva. Não chegou ao outro lugar. Foi seguro, talvez covarde. Dirigiu em linha reta. Não se arriscou. O amor tem cara e jeito de curva. Se você não contorná-la, nunca vai ver o que vem depois.

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Das estranhezas

Sim, somos seres estranhos.
A gente fica horas brigando por nada.
Fica dias se amando por tudo.
Fica meses na latência do querer.

Sim, o amor é estranho.
Fica em silêncio no mais absoluto barulho, o mesmo que atordoa nossa alma.
Põe-se reto quando a estrada é torta.
Torto quando a estrada é reta.
Desvia de nós, o tempo todo, teimando com nossas certezas.

Não, eu não sei se isso muda.
Somos feitos de um ar comprimido.
Preenchidos de liberdade, não de saudade.
Estranhos na nossa essência,
estranhos juntos,
estranhos a sós.
Mas somos nós.
Antes, depois, outra hora, outro dia...
quem sabe?
Nós.








segunda-feira, 8 de agosto de 2011

O próximo

Pra cada amor que ia,
um novo amor surgia.

Entender isso era como aceitar uma realidade imutável da vida.
E permitir que as portas se abrissem.
E deixar-se levar outra e outra e outra vez. Até cansar. Mesmo.

Porque o próximo,
Ah, o próximo...
Era sempre o melhor que podia esperar.

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Sobre brigas, dramas e amor

Eu tenho dois defeitos graves e quase indissolúveis. Sou brigona. Sou dramática.
A qualquer momento, cismo que preciso tirar uma história a limpo. Pode ser do arco da velha. Pode ser algo que me incomoda só um pouquinho. Lá vou eu, com meu ímpeto esbravejante, tentar encontrar respostas para perguntas que sequer foram feitas.
Mas o que mais tem me chamado atenção nos últimos tempos: na maioria das vezes, brigo e sou dramática com quem amo. Contradição? Sim. Inexplicável? Também. Deveria ser normal querer a paz, o sorriso, o abraço daqueles que me fazem bem. Acontece que sempre encontro uma pulga para colocar atrás da orelha. Uma frase que leio errado. Um olhar que encaro de outro jeito. Pronto, é briga. E drama. E horas e horas de discussão, de dor de cabeça, de páginas e páginas de emails, de litros e litros de lágrimas.
Como fazer alguém que eu amo entender isso? Que só questiono quem me importa? Que só levanto a voz com quem me ouve? Que só choro pra quem sorrio?
Essa tem sido minha tarefa mais árdua. Colocar limites no que eu sinto. Separar o que é dor do que é drama. Entender esse jogo da vida em que, às vezes, nem tudo ocorre do jeito que eu quero, do jeito que eu planejei.
Então, se nos últimos meses, eu já briguei com você, leitor, aceite minhas desculpas, meu abraço e guarde uma certeza. Essa é minha forma de amar. Atrapalhada, torta, estranha. Mas verdadeira. Juro que sim.

terça-feira, 26 de julho de 2011

O amor complexo

Até os 25 anos, eu conhecia só um tipo de amor. Aquele que a gente aprende com os pais, que vê todo mundo fazendo igual, que te leva pro altar, alimenta teus sonhos de mocinha de novela, te dá frio na barriga e todos os ziriguiduns que o encontro entre duas almas (gêmeas ou não) pode gerar.
Mas depois eu cresci. É. Abri uma outra janela pra poder enxergar o mundo lá fora. Assisti Closer, Encontros e Desencontros e Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças. Entendi que o amor nem sempre é sonho. Que ele é complicado, às vezes trágico, e pode nos fazer cair lá do alto. O importante é saber não morrer.
O amor complexo é mais comum do que se imagina. Tenho dezenas deles ao meu redor. Sou vítima e alvo de um deles. E, confesso, serei eternamente, como ser complexo que sou. Não é por ser difícil que deixa de valer a pena. Às vezes, isso aumenta ainda mais o sentido do amor.
O grande trauma do amor complexo é que, quase sempre, ele não é eterno. Um dia vocês vão se separar. E não é porque deixaram de se gostar, mas porque os seus mundos são díspares. Ele quer um apartamento no centro. Eu só quero uma casa com cerca branca e cachorros no pátios. Ele quer descansar nas férias. Eu quero viajar o mundo. Ele quer poupar. Eu quero gastar. E, assim, no meio de tantas diferenças, de repente descobrimos que não nascemos um pro outro.
O amor complexo às vezes sofre além da conta, porque é bem chegado numa batalha perdida. Ele quer passar por cima de tudo e de todos para só depois triunfar. Mas nessa de ir guerreando, ele perde sozinho. E quando vocês percebem, dormiram no ponto. E esqueceram de sonhar.
No amor complexo você carrega traumas e dores dos amores que imaginou perfeitos. E sabe olhar pro outro como alguém imperfeito que é, que sempre vai ser. Sabe olhar o outro com ternura e sem ilusões. O mundo não é cor de rosa e você finalmente percebeu.
No amor complexo, antes de tudo, você entende que amar não é necessariamente conseguir ficar junto. Muito pelo contrário. O amor complexo só é assim designado porque não consegue ser simples. Um dia vocês vão se olhar e entender que valeu a pena, mas que foi bom enquanto durou.
E o amor complexo não é pessimista. Ele apenas é honesto. Como todo amor deveria ser. Simplificar o amor complexo não é um objetivo, mas uma luta diária, de entendimento do ser humano, de preservação da liberdade, de respeito ao próximo. Mas isso você só vai entender quando tiver vivido uma história assim. Chorado e sofrido por uma história assim. Vencido uma história assim.







quarta-feira, 20 de julho de 2011

Diálogo

- Você está pronto pra me perder?
- Não sei.
- E pra me ganhar?
- ...

Na agonia do silêncio, residia toda a culpa e também toda a mágica.
Mas, às vezes, o silêncio falava sozinho.
E, sim, ele ardia mais do que qualquer palavra.

domingo, 17 de julho de 2011

Eu te amaria

Eu te amaria de novo, de novo e pra sempre.
Deixaria meus pés suspensos pra flutuar mais dois minutos com você.
Repetiria baixinho a nossa canção de amor, a sua canção de ninar.
Sairia falando alto por aí que fomos feitos um pro outro. Que somos, que seremos, que sonhamos.
Eu te amaria de novo e mais a cada segundo.
Tocaria em sua mão com o calor suave das minhas, a mesma que tantas vezes te acenou de longe todas as vezes que você partiu.
Abriria mão das falsas verdades, das mentiras sinceras, do oco que nos habita cada vez que nos pomos em cheque.
Sonharia acordada só pra não precisar dormir. Pra não te perder.
Eu te amaria de novo sempre, sempre e tanto (como diria o Vinicius).
Consertaria nossos erros, que foram ficando pelo caminho, levando pedacinhos de nós, quebrando nosso contrato.
Rasgaria aquela carta triste que você me escreveu. E aquela outra que eu deixei debaixo da sua porta, com três linhas e milhões de lágrimas.
Encontraria o presente. O seu presente.
Eu te amaria de novo no limite do meu próprio amor, no limite das nossas fra(n)quezas, daqueles pratos que vivem quebrados, daquelas certezas que nos mantém separados.
Eu te amaria com os olhos fechados, com os braços abertos, com o nó na garganta, com o riso, com o sopro, com o sonho. E te amaria a cada passo pra frente, se essa conjugação fosse possível. Se eu já não te amasse tanto.

P.S para leitores desavisados: Não se trata de um texto sobre mim. Não é um desabafo, nem uma declaração de amor pra ninguém. Se quiser, volte sempre.

sexta-feira, 15 de julho de 2011

Amiga, escuta o que vou te falar

Amiga, escuta o que vou te falar.
Um dia ele vai passar e você nem vai perceber. Até vai olhar de relance, vai notar que ele está mais gordo, velho e feio. Vai achar que não tem o mesmo brilho, que perdeu toda a graça de outros tempos.
Um dia você vai descobrir como tem gente boa de verdade por aí. Que pensa diferente de você, mas nem por isso deixa de ter aquela semelhança que você tanto procurou. Que ri das suas piadas. Que te leva pra neve no inverno e pra praia no verão.
Sim, você vai descobrir que a vida não para no primeiro, segundo ou terceiro fora. Que não esbarra na sua dor de cotovelo, naquela vontade de ficar chorando no meio da balada quando todo mundo ao seu lado parece se divertir.
Meio sem querer você acorda e percebe que sua mãe tinha razão. É, tudo passa. E até se questiona sobre o tempo que perdeu tentando achar explicações, caminhos, saídas. Pra que, afinal de contas?
Então você veste a sua roupa mais bonita. Arruma o cabelo. Vai ao salão. Combina uma balada. Marca um encontro. Beija de novo, abraça outra vez. Sente o coração mais leve. Se sente mais bonita, inteira, feliz.
E justamente nesse dia, ele passa e você nem nota. Vai notar por que?

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Meu lirismo

Eu queria escrever isso pra você.
Dizer que estou crescendo, desabrochando, mudando.
Que minha poesia não está mais presa.
Que ela nasceu pra se espalhar, pra se mostrar, pra me ensinar.
Eu queria que você entendesse minha letra.
Minhas palavras,
meus devaneios,
meus sorrisos,
meu silêncio.
E que você soubesse interpretá-lo como uma agonia constante,
como um medo irreal, irrestrito, responsável.
Queria que você visse o meu caminhar,
percebesse que me pus a frente,
que não parei,
que ultrapassei aquela faixa estreita que sempre se pôs perto de nós.
Eu queria que você me escutasse,
que me sentisse na minha acidez, na minha doçura,
que me acalmasse do cansaço,
que me desse fé.
Eu queria mesmo era te escrever pra te contar as mesmas coisas que você já sabe, que você sempre soube.
Que minhas malas estão prontas.
E que agora, agorinha mesmo,
eu decidi fechás-la pra poder partir.

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Reencontros

No nosso primeiro encontro, eu chorava baixinho, como quem pedia ajuda, como quem busca colo.
Eu ri a noite inteira tentando secar minhas lágrimas, sufocar minha mágoa, me libertar. Lembro de todas as músicas que tocaram de fundo e da despedida no dia claro, que só eu sonhei que pudesse ser perfeita. Era verão.
Depois, fomos nos encontrar mais duas ou três vezes, sempre no frio, sempre no inverno.
Ontem ele me viu chorando de verdade, pos a mão no meu ombro e perguntou o que eu tinha. Engraçada essa coincidência de encontrar sua cura cada vez que um abismo se abre na sua frente.
Eu olhei pra ele, enxuguei a lágrima e sorri.
Lembro pouco do que aconteceu depois. Não foi como eu sonhei. Foi como eu acordei.

*Agora eu me vejo parado em frente a um grande arranha-céu. Imaginando você.

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Deixa ele entrar

Quando o amor bate na porta, a gente tem que ir atender.
Tem que convidá-lo prum chá, um café, uma água, o que seja.
Porque o amor se anuncia leve, se anuncia exato, se anuncia cor.
Ele entra bem devagar, até tomar conta da sala, do quarto, de nós.
Ele nunca vai pedir para sair, a não ser que a gente decida mandá-lo embora, pela porta da frente ou pela porta dos fundos.
Se mandar, a gente não pode mirá-lo pela última vez sem dor e sem culpa. Porque quando o amor escapa, ele dói, ele arde, ele mata.
Quando o amor bate na porta, a gente tem que recebê-lo de pijamas, pantufas ou com o vestido mais lindo do guarda-roupa.
A nossa única missão é mesmo deixar a porta aberta.
Porque se ele entrar, a vida muda.
E a gente não vai parar de sorrir.

terça-feira, 28 de junho de 2011

Para meu pai*

Eu acordava todo domingo com a casa cheia de música. Era o som exato da vida que morava lá. Fosse sol, chuva ou frio, ele cuidava para que a melodia nos preenchesse de alegria, de uma paz que poucos conhecem.
Demorou para eu me acostumar com silêncio. Mas todo filho vai embora um dia. Depois volta, com a mala cheia de certezas que o tempo consolida, com a expressão mais séria, enrugada. Com paisagens do mundo adulto, aquele que nos abraça com força, num extenso caminho sem volta.
Mas eu continuo sentindo a música todos os dias. Eu a escuto involuntariamente quando ele me liga e eu atendo, às vezes mal-humorada, porque acabei de acordar ou porque estou indo dormir. Eu ouça essas notas quando ele me olha e me abraça sem precisar me tocar. Eu escuto e canto essa música toda vez que a vida me coloca dúvidas e ele me enche de certezas.
Ele é o Pedro. Pedro Paulo, meu pai. Herói desde que o conheço. Amor, dedicação, zelo, cautela. Ele é o centro das minhas referências. Meu filósofo preferido (filósofo mesmo, de formação). Meu professor inesquecível (professor mesmo, por opção). Meu grande amigo, daqueles que aparecem na hora certa, no tempo certo e para quem eu posso chorar a qualquer momento do dia, da noite, da madrugada.
Eu sei que vou vê-lo envelhecer de longe. Que ele me criou para o mundo. Que dificilmente aquela música vai voltar a tocar de verdade. Mas eu também sei que nosso amor é inviolável e que não precisamos de mais do que isso para sermos eternamente um do outro.
Eu não consigo lembrar de nenhum momento difícil ou feliz em que ele não tenha estado do meu lado, celebrando minhas conquistas, me incentivando a voar. Segurando a minha mão, limpando minhas lágrimas. Ouvindo. Falando.
Aos 28 anos, não caibo mais naquele colo. Mas ele é o lugar onde eu poderia ficar para sempre. É o lugar para onde eu vou voltar toda vez que precisar. Porque eu sei, com uma certeza única, que Pedro, meu pai, sempre estará a minha espera com a mesma música. Com o mesmo amor.

*no dia do seu aniversário

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Urgente

O amor urgente
não é o pra sempre
é o pra já.


*#samba

domingo, 12 de junho de 2011

Busque

Me deu a mão no dia mais cinza dos últimos tempos. Eu agradeci, tímida, porque realmente precisava daquele alento, naquela hora, naquele instante. Eu arrisco dizer que, até então, desconhecia todas as dúvidas, os lapsos e as lacunas da palavra amor. Descobri tempos depois, quando sentei comigo mesma, dessa vez em um dia de sol a pino, e decifrei cada milímetro do que eu sentia. Eu não sabia ser coerente diante daquele novo mundo, que era tão cheio de dúvidas quanto de certezas firmes e categóricas. Eu não sabia ser sensata, equilibrada, normal. Teria de aprender, um dia, como uma criança que começa a ser alfabetizada e só consegue balbuciar sílabas. Mas eu me deixei levar. Tudo isso porque entendi.
*
Na minha vida hoje falta pouca coisa.
*
*
Não tenha medo das paixões.
*
Busque.

segunda-feira, 30 de maio de 2011

O único

A primeira vez que eu te vi chegar, não me dei conta de que era você.
É, eu esperava que meu coração pulasse, minhas pernas tremessem e minha alma apontasse na sua direção. Mas não foi o que aconteceu. Não foi como em nenhum dos meus sonhos e contos de fada bregas, de menina que leu Sabrina ou que assistiu novela demais.
Você era muito imperfeito para mim.
E eu era avessa a tudo o que você procurava.
Mas, sei lá, acho que nos encontramos justamente por isso.
Porque tudo o que eu sempre temi em você é o que mais me apaixona.
E tudo o que eu não tenho pra te dar é o que você me pede, veja só.
Eu sabia que o amor maduro era diferente do primeiro amor. E lembro do dia em que te vi de longe e notei algo que eu não sabia dizer bem o que era. Intuição, talvez. Eu estava diante de alguém que me traria revoluções.
Eu agora não consigo te dizer porque essa história é tão diferente. Ou porque eu cismo em taxá-la como algo urgente, importante, essencial. Talvez porque você já seja parte minha. Ou porque ainda vai ser. Talvez porque você esteja tão perto quanto longe, seja tão meu quanto do mundo e viva me mostrando coisas que eu não teria outro jeito pra aprender.
Mas um dia eu vou querer saber por que meu coração não disparou naquele momento. Aquele dia, há tanto tempo, em que você parecia só mais um, mas, na verdade, era o único.

quarta-feira, 25 de maio de 2011

Labirinto

A última vez que acordou decidida, foi dormir cheia de interrogações.
Porque para ela, não havia graça nas certezas.
Porque para ela, a rotina era um sacrifício.
Saber era estranho.
Quanto mais se procurava,
mais se perder tornava-se um vício.
Quanto mais se conhecia,
mais perguntas guardava a respeito da própria natureza.
Na certeza das eternas dúvidas, que para tantos poderiam ser cruéis,
assentou-se de forma desastrosamente humana.
E aconchegou-se sabiamente entre uma parede e outra do labirinto que era a sua vida.

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Cura

Abriu os olhos meio tonta, meio dopada, meio vazia.
O pai segurou-lhe as mãos com força e ajeitou cuidadosamente seus cabelos desgrenhados após a bateria de exames que acabara de enfrentar.
Não conseguia sorrir. Ao menos não aquele sorriso que todos lhe pediam.
Só sentia dor. Um vazio. Um aperto. A mente tomada de imaginação, de medo, de angústia.
Mas decidiu acordar no exato instante em que entrou no elevador e mentalizou cada palavra das dezenas de frases que o médio despejara a seu favor. “...é o reflexo de uma dor ...eu só posso tratar a dor física...precisa...cuidado...leve”. Pareciam frases desconexas, mas todas faziam um imenso sentido.
O consultório do médico era o único lugar que não esquecia. Uma sala branca. Um homem com a barba espessa, os olhos claros, uma voz grave e o diagnóstico seguro. Lembra de ter engolido o choro pelo menos quatro vezes diante daquele vazio. O pai apertou-lhe os dedos mais de uma vez também. Era o exorcismo de uma dor. Um grunhido calado. Um berro mudo.
Precisou de quase um ano para tomar a coragem de escrever sobre aquilo, sobre o ápice de uma emoção que lhe mantinha inerte, mas misteriosamente viva. Precisou reler e-mails, reler conversas, olhar para cenas que lhe causavam tumulto e lhe traziam certezas.
Onze meses e dez dias era o que marcava o calendário. Uma eternidade era o que representava para ela. Não só porque deixou de doer. Não só porque passou rápido. Mas porque precisava ser exatamente assim. Uma história forte, cruel, certeira. Como nos seus pesadelos. Como em todos os seus sonhos.
Fechou os olhos naquela noite, certa de que o pior já passara. Depois disso, aprendeu a acordar todos os dias sem dor, sem medo, sem remorso. Não sabia o quanto valia o seu sorriso, mas, naquele instante, valia o ouro. O ouro da sua cura.

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Novela

A mocinha quer que tudo dê certo.
Senta, espera, faz a unha, o cabelo, olha a janela, tira um cochilo, come uma fruta e dorme para sonhar.
Ela sabe que o mocinho está próximo. Que não pode dar um passo a mais, nem a menos. Que tem que rir com discrição e emoção. Que é melhor chorar escondida, pra não demonstrar todo o seu medo. Que é melhor ficar contida, pra não errar.
Todo dia tem um capítulo novo nessa novela. Nem sempre ela sabe o que sente. Quase sempre acha que sabe. Quando sabe, não age. Quando age, não sabe. Mocinha indecisa, essa. Faz comédia pastelão quando acha que é do drama. E no drama ela sempre cresce. Mas encolhe de medo depois.
O mocinho só observa. Calcula bem os seus passos. Nos capítulos que protagoniza, fala pouco, ouve muito e guarda tudo. Ele é mais razão do que emoção. Ao contrário dela, como tinha que ser. Ao contrário dela, como nunca deveria ser.
Como em toda a novela, o final pode ser previsível. Um dia eles vão se olhar e perceber que perderam tempo com besteiras. Que foram feitos um para o outro. Que sempre se amaram. Vão ter filhos, netos e uma casa de frente pro mar. Ou na montanha, quem sabe.
Mas o autor dessa mesma novela pode se rebelar, como faz vez ou outra. Deixar o mocinho cada vez mais confuso. Deixar a mocinha insegura. Levá-los cada um pra um canto, perdidos numa história que não tem rumo, nem rota. Se eu conhecesse o autor, conversaria de perto com ele. Faria um pedido insolente. Pelo final feliz, qualquer que fosse a escolha. Juntos ou separados, mas na mesma novela. No mesmo conto de fadas.

sexta-feira, 29 de abril de 2011

Vida breve

Tinha um mundo de coisas a descobrir
Outro tanto a escolher.
Mas tudo o que conseguia era ficar inerte,
Parado,
Observando o acúmulo da vida que se apoderava em suas mãos.
Parado, estacionado, preso.
E a vida se esvaia, escorria.
Parado,
Estacionado,
Preso,
Inerte,
Só.

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Isso é tudo

Aprender a ser feliz daquele jeito.
Lembrar de não esperar.
Lembrar de não sufocar.
Lembrar da rota.
Perder-se na rota.
Passou mais um dia e já era outono.
Passou outro dia e nada mudou.
Que fossem cada vez menos silenciosos nas noites de encontro,
e cada vez menos certos, menos acomodados, mais entregues.
Que fossem o que eram...
...Felizes e só.

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Ela voltou

Eu te disse que ela voltaria um dia.
Sim, foi só uma pausa para conhecer um pouco o mundo, esse que você insistia que girasse em torno de você.
Ela andou por aí porque precisava beijar outras bocas, sentir outro gosto, outro corpo que não devia - e não podia - ser só o seu.
Mas eu sempre soube que ela voltaria com esses olhos de remorso, essa dor e essa culpa. Voltaria para os seus braços como quem chega em um porto. É, um porto seguro.
Você chorou ao vê-la partir. Jurou que era definitivo. Mas eu sempre soube que são poucos os que não dão uma segunda chance ao amor. Sempre soube que a primeira vez que a porta se fecha, alguém esquece de cadeá-la. Sempre soube que ir e vir muitas vezes são um verbo único. Não, não há dicionário que compreenda.
Ela te deu tchau com toda a doçura que o momento exigia. Ela também te disse que era para sempre. Ela achava que era para sempre, que não tinha mais volta. Que não havia mais chance.
Mas nessa história de entender e de pensar que nada é eterno, de quebrar e chutar dogmas, ela entendeu que nem sempre um sempre vale para sempre. Ela voltou com vontade do seu abraço. Ela voltou com um ou dois sorrisos prontos para você. Ela voltou sem jamais ter ido. Você que não percebeu.

terça-feira, 12 de abril de 2011

Sol e chuva

Quando você não souber se há chuva ou sol lá fora
Proteja-se em casa
Respire fundo ao olhar pela janela
E espere um dos dois passar...

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Do pouco que ficou...

...guardo as lágrimas enxugadas, em um rosto murcho, cansado, abatido, que simplesmente se esgotou.
Há histórias que acabam porque o tempo cuida para que sejam finitas.
Há histórias que acabam porque alguém insiste em colocar um ponto final.
Há histórias que acabam simplesmente porque mereciam acabar.




Eis o ponto, finalmente.

domingo, 10 de abril de 2011

A última mensagem*

Estou a procura do que deu errado para nós.
Se faltaram mais verdades nas suas palavras.
Se sobraram ilusões ou sonhos prontos para mim.
Não, não foi mais uma das tantas decepções que nos mantém vivos, prontos para acreditar que o amor é uma sucessão de desencontros temperados com lágrimas e dor.
Foi a maior de todas as decepções.
A maior tristeza que eu poderia guardar comigo, justo agora, que faz tanto frio.
Eu me ponho a olhar para trás a procura de um culpado,
de um alento que me faça não temer a vida que há diante de mim.
Que você não tropece mais. Nunca mais.
Porque eu juro com todas as minhas certezas
que eu preciso andar.

*Para alguém que vai passar.

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Bom dia

Um sonho que te faça sorrir dormindo,
Um café com o cheiro e o gosto que você esperava,
Um abraço apertado,
Um banho quente e longo,
Uns bons minutos de reflexão antes de colocar o pé na rua,
Um sol brilhando lá fora,
Um dia inteiro pela frente,
Uma gargalhada despretensiosa,
Um beijo para encerrar tudo. Aquele com que você sonhou.
Uma simples segunda-feira e tudo mais que te dê vontade de levantar.

Bom-bom-bom-dia.

quinta-feira, 24 de março de 2011

Velhice*

Eu os vejo sorrindo com força e fragilidade, uma contradição que representa o que nós, homens, somos diante da vida. Não há nada mais puro, mais belo e mais verdadeiro do que a velhice, do que ser velho, do que honrar rugas e cabelos brancos com a convicção de que se é grande. Muito grande.
São feitos de passos lentos porque já correram muito. São feitos de uma respiração pausada porque já se fizeram ofegantes. São feitos de certezas porque já se deixaram tomar por dúvidas.
Ser velho não é ser feio. Nunca. Ser velho é ser bonito, é ser intenso, é ser verdade. Por isso me emociono quando percebo a facilidade com que trocam sorriso. Por isso sei escutá-los, mesmo que, na minha mocidade teimosa, eu não tenha nada a dizer.
Eu os vi chegando aos oitenta e eles me verão chegar aos 30. Quem sabe aos 40. Ou aos 50, se todos tivermos sorte. Mas mais importante do que vê-los é sabê-los. Sabê-los presentes. Sabê-los meus.
Acompanhar um homem na sua velhice é ter a chance suprema de tocar a vida com a ponta dos dedos. É poder se orgulhar de ver as rugas surgirem em toda a sua exuberância, precisão e coragem. É saber, antes, que a beleza e a mágica da vida continuam guardadas naquela parte que não envelhece, tenhamos 10 ou cem anos. Sim, o lado esquerdo do peito, aquele que bate, o coração.

* Para os meus velhinhos, que todo dia me enchem de inspiração.

sexta-feira, 18 de março de 2011

Máquina do tempo

Eu ontem caminhava rapidamente por uma rua movimentada do Centro, tentando dar conta de compromissos da vida que nunca cabem em um dia só. Deixei a minha carteira cair no chão e , pra não perder tempo, juntei-a correndo e parti sem perceber que meu cartão do banco havia ficado. Quando me dei conta da tragédia que se abatia sobre mim (horas para cancelar o dito cujo, mais dias para receber um novo), pensei em como eu seria feliz se tivesse uma máquina do tempo, dessas que nos permitem remediar qualquer erro, qualquer escolha mal feita.
Mas e aí, e se a tal máquina existisse? Se eu pudesse voltar atrás em toda e qualquer situação que tenha me causada um grama de arrependimento, o que seria de mim? Seria, lógico, uma pessoa frágil. Totalmente frágil. Quem não erra, não sabe o sabor do acerto. Não sabe a importância dos tropeços pra galgar um caminho firme. Não conhece a alegria de se descobrir mais sábio simplesmente por estar vivendo - e aprendendo.
Se eu pudesse, por exemplo, voltar no tempo para não perder meu grande amor, não teria vivido o seguinte. E o próximo. E o que veio depois. Sem todas essas experiências - grande parte delas já remediadas - quem eu seria hoje? Talvez uma menina vivendo num conto de fadas. Ou talvez nem estivesse vivendo, levando em conta que uma vida sem fracassos não é vida.
Voltar no tempo implica em apostar nas escolhas certas. Mas quem sabe o que é o certo para nós? Somos frutos dos nossos equívocos, dos nossos trajetos tortuosos e, acima de tudo, dos nossos conflitos. Escolher o certo, sempre, é coisa para quem tem medo de viver e por isso não arrisca. É coisa de quem pensa demais e que por isso não vive.
Posso estar sendo radical, eu sei. E é lógico que eu queria essa máquina do tempo só para ser cuidadosa o suficiente para não perder meu cartão do banco naquela rua movimentada, naquele dia corrido e pesado para mim. Mas se eu não tivesse deixado a carteira cair, não teria pensando, nem escrito nada disso. Estaria persistindo naquela ideia de que viver é fazer escolhas certas, sempre em busca de uma perfeição que não combina com a vida. Ao menos não com a minha.

sexta-feira, 11 de março de 2011

Pessimismo tardio

Um casal se conheceu numa manhã clara de primavera.
Trocaram telefones.
Mandaram mensagens.
Marcaram um encontro.
Adicionaram-se nas redes sociais.
Teclaram.
Conversaram.
Encontraram-se pela segunda vez.
Dormiram juntos.
Telefonaram.
Saíram em turma.
Sorriram.
Se apaixonaram.
Viajaram.
Acamparam.
Apresentaram-se aos familiares, aos amigos mais próximos.
Sonharam.
Brigaram.
Pensaram nos prós e nos contras.
Choraram.
Terminaram.
Foram (cada um para um lado).
Um casal se separou em uma noite fria e chuvosa de inverno.
Foi só mais um.

terça-feira, 8 de março de 2011

Terça de cinzas

Eu queria te ter ao meu lado só pelo prazer de ouvir teu silêncio nesse dia chuvoso.
Só pela vontade de sentir teu riso,
Teu cheiro,
Teu toque,
Teu tudo.
Eu queria te ter ao meu lado só para poder te alcançar com as mãos.
Mas não posso.
Não tento.
Não me encorajo.
Ou não consigo.
Simplesmente não.

terça-feira, 1 de março de 2011

Caminhos

Ela sabia que estavam lhe espiando os passos.
Era preciso andar mais reta e segura a partir de agora, evitando os tropeços tão comuns de outros tempos.
Sabia que não podia dar meia volta e se por a correr sem direção, como o ímpeto juvenil sempre lhe incentivara a fazer.
Mais do que graça, era preciso força no caminhar. Porque quem a observava não queria elogiar seus passos elegantes. Queria vê-la rígida e firme diante daquele longo percurso chamado vida.
A cada centímetro que se punha para frente, uma força audaciosa lhe projetava ainda mais adiante.
Era um caminho sem fim, enigmático. Era preciso coragem e altivez. Mas estava disposta a tudo por ter a firme convicção de que chegaria no ponto certo, sem nunca precisar recuar.

domingo, 27 de fevereiro de 2011

Silêncio

Quando você quiser gritar,
Quando quiser extravasar,
Quando quiser se libertar,
Experimente o silêncio.
E só.

sábado, 26 de fevereiro de 2011

Quero

Quero que você continue me vendo dormir e acaraciando os meus cabelos assim que eu acordo.
Quero que me abrace antes mesmo que eu me espreguice e que me proteja do dia lá fora.
Quero que me beije longamente pela manhã, para que eu tenha certeza de nós.
Quero que me abrigue no seu ombro quando tudo ficar meio escuro. E aperte forte a minha mão para eu saber que estamos juntos.
Quero que me alegre com os seus devaneios, sonhos, caprichos. E realize os meus, na medida do possível.
Quero que me encontre às 20h no bar, pontualmente, para lembrarmos exatamente porque estamos vivos.
Quero que me inundes com perguntas. E que prepare as respostas para o caso de eu não tê-las.
Quero que entenda minha insensatez e minhas despedidas fora de hora. E que ria comigo depois que o choro cessar.
Quero as verdades, as certezas, as semelhanças, as diferenças, as tempestades.
Quero que tudo comece ou termine com um verbo conjugado no presente, o tempo do pra sempre.
Quero que você saiba que eu já estou aqui.

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

#Amor

Eu não sou grosso. Eu te amo.
Foi a frase mais bonita que eu ouvi naquela noite.
E nos últimos anos.

Degraus

Nos encontramos no meio de uma escada.
Eu subia,
Ele descia.
Foi um diálogo marcado pela submissão de quem ia ter de aprender a voltar.
Um recuo pra mim,
A saída pra ele.
Decidi deixá-lo ir sozinho na frente. Desceu um, dois, três degraus, até sumir diante dos meus olhos.
Eu fiquei lá, estática, tentando projetar o que teria encontrado no topo: se a queda ou a consagração. Era um risco incalculável.
Esperei até ter certeza de que ele estava no chão e me enchi de coragem para dar o primeiro passo. Não dei. Sentei um degrau acima e fixei os meus pés. Eu não conseguiria me mover naquele instante e fui permitindo que ele se afastasse.
Lá embaixo, dificilmente conseguiríamos nos encontrar de novo.

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Um presente para Júlia*

Já me disseram que amigo é aquele que te tira do barco quando ele está afundando. Que é quem te tira da fossa, te joga na parede e te diz, com o dedo em riste, que não adianta você chorar. Que é quem te beija e te abraça sempre com o mesmo vigor e entusiasmo, porque a paixão não morre. Que é quem te leva pra dar uma volta quando o seu mundo insiste em querer ruir.
Eu tenho a sorte em ter minhas duas mãos cheias de amigos, por quem eu choro e faço chorar. São pessoas que eu escolhi pra estarem comigo, andando, correndo, caindo e começando tudo de novo, sempre quando alguma barreira não autorizada nos leva ao chão.
Aquela moça bonita, com uma cara de adulta, vestido vermelho, cabelos loiros naturais e olhos estupidamente verdes foi uma das últimas a me completar. Júlia é o nome dela. Nome de livro de romance, com histórias tão boas quanto um best seller jamais seria capaz de reunir.
Eu sempre a escuto com atenção, mesmo sabendo que ela tem alma de menina, que caminha feito menina, erra e acerta feito menina. Nós nos damos bem justamente porque somos seres opostos, que se completam e se integram no meio da mais absoluta diferença.
Eu não gosto de vê-la triste e já senti na pele todas as tentativas dela em me reanimar quando eu andei chorosa pelos cantos. Na maioria das vezes, seus conselhos funcionavam. Como quando me mandou comprar um vestido ao invés de ficar me lamentando. Ou quando me tirou de uma mesa de bar deprimente e me levou pro fantástico mundo de Júlia.
Poucas vezes conheci alguém tão leal, tão companheira, tão de verdade. Compartilhamos nossas maldades e nossas belezas. Nossos sonhos, nossos pesadelos, nossos medos. E assim nos construímos e reconstruímos junto com uma amizade que já disse que veio pra ficar.
Amigo é aquele que vai contigo do inferno ao paraíso sem pestanejar. E que se coloca entre você e todos os problemas que a vida possa te trazer em um dia cinza e frio. Com ela é sempre sol, porque decidimos que seria assim. Gracias, amiga, por ser esse poço de ternura, carinho e dedicação. Eu te amo muito.

* Em homenagem a um quase aniversário. E em resposta a algo que eu demorei a retribuir: http://jotapitthan.blogspot.com/2010/10/no-rastro.html

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Pelos meus olhos

Juro que vi ele se aproximando,
trazendo consigo um bocado de flores, um bocado de cores, um bocado de amor.
Não, eu não havia sonhado.
Era ele, sim, vestido de saudade e de certezas,
cheio de paz, de silêncio e de risos.
Podia jurar que foi feito pra mim,
que eram meus os seus presentes,
aquele sorriso leve,
aquele susurro suave,
aquele passo lento - o passo de quem não tem pressa.
Eu sei que deveria sentar e ficar esperando,
mas algo em mim sempre mudava.
Pelos meus olhos, quanto mais perto ele chegava,
mais eu me afastava,
relutava,
enfrentava.
Pelos meus olhos, era a distância - firme e exata - que nos manteria em paz.

domingo, 13 de fevereiro de 2011

Na corda bamba

Porque se conheciam demais, viviam se equilibrando naquela corda bamba que separa o campo certo do abismo sem fim. Um passo errado seria o suficiente para destruir aquilo que alimentavam dia após dia, sem nenhuma certeza de que o final poderia ser feliz para qualquer um dos dois.
Mas arriscavam em nome de algo que era comum a ambos. Liberdade, eis a palavra que ela supunha essencial agora, depois de tanto tempo amarrada, entregue, desencontrada. Era a palavra preferida dele, a quem aprendeu a respeitar justamente por ser assim, livre como um pássaro.
Talvez um dia pudesse se arrepender. Talvez nunca mais fosse se arrepender. Talvez fosse mais fácil não se perguntar, deixar a onda levar, parar de pensar, de se reprimir, de tentar mudar a rota do incontrolável.
O ponto de interrogação passou a persegui-la. As dúvidas lhe bastavam mais do que qualquer certeza. Só não queria perder, embora gostasse de brincar com suas próprias lágrimas antevendo o dia em que precisassem finalmente apagar o que restara.
Pensou naquela linha do tempo, no dia em que seus caminhos se cruzaram sem pensar que era pra sempre. No dia em que decidiram ser claros. No dia em que decidiram não decidir nada.
Aquela corda em que gostavam de se equilibrar era o que amarrava um ao outro. O dia em que ela rompesse, estariam mudados para sempre.

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Algo assim meio sem nome

Não fui eu que inventei que o amor precisa de um nome.
Há quem chame de namoro.
Há quem chame de casamento.
Há quem chame de "rolo".
Há quem chame de união estável.
Há quem simplesmente prefira não nominá-lo formalmente.
Se você está no último grupo, lembre-se que sentimentos não precisam estar inclusos em nenhum dicionário.
Que existem palavras que não servem pra se encaixar na gente.
Que o que importa nem sempre é poder adjetivar toda uma vida. Ou um pedaço dela.
Quem escolheu o nome pro amor já sabia o que queria dizer com ele.
Nós é que inventamos outros atributos e outros adjetivos pra algo que já é suficientemenete claro.
Amor não precisa de nome. Nem de contrato. Nem de assinatura. Nem de rótulo. Nem de promessas.
Amor só precisa de amor.
Simples assim.

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Um adeus não muda nada

A minha geração aprendeu a dizer "tchau" de uma forma veloz e intensa. O tempo todo tem alguém se despedindo, arrumando as malas, buscando novos horizontes, novos amigos, novas promessas. O tempo todo tem alguém pronto pra pegar o primeiro ônibus pro lugar mais longe do mundo. Mas sempre tem os que ficam.
Se você ficou, saiba que a saudade é o sentimento mais sublime e honesto que alguém pode sentir. A saudade é o vazio de alguém que nos preencheu, simplesmente por estar perto. É a sensação de que certas coisas não voltam, mas precisam se consolidar em algum lugar seguro das nossas lembranças. É a vontade de repetir tudo que ficou lá atrás, em um tempo distante, que podia ter sido congelado pra nunca mais acabar.
Quem fica sempre sofre mais do que quem vai, porque está no cenário da saudade, passando por todos os lugares que despertam uma lembrança, uma pontinha de dor. Quem vai tem um mundão gigante pra explorar, coisas novas pra desvendar, outros amigos de quem se despedir.
Quando eu aprendi a dizer tchau, chorei como uma criança. Hoje me dói mais ver alguém partir. Ouvir um tchau é quase como um soco no estômago, ainda que eu saiba que não precisamos da presença pra termos as certezas.
Sempre que você for embora, alguém vai chorar escondido. Depois vai rir das graças que vocês viveram. E torcer pra que você seja feliz. Sempre que você ver alguém indo embora, vai fazer exatamente o mesmo.
Dar tchau virou quase a mesma coisa que dar oi. O que muda é a intensidade do momento, do gesto de adeus. O que muda é a percepção de que o amor sobrevive, se solidifica, mesmo que as temidas cinco letras te façam engasgar.

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Sobre te ver dormir

Me apaixonei quando vi ele dormindo.
É, a gente só tem certeza se é capaz de amar alguém quando consegue ficar horas olhando o respirar, os olhos fechados, o sono pacífico de quem nos cativou por inteiro.
Foi assim que pensei pela primeira vez em roubar todos os sonhos dele pra mim, em mergulhar lá no fundo, em encontrar suas causas, consequências, vontades, verdades. E como era lindo o jeito que ele se movia, sem perceber que eu estava em paz por poder admirá-lo num momento de absoluta intimidade.
Eu comecei a brincar com cada membro do corpo dele, na tentativa de mostrar que havia alguém ali, simplesmente apaixonada, velando cada segundo do seu desligar do mundo. Acariciei seu peito. Tentei me encaixar entre o seu ombro e o braço esquerdo. Ouvi o coração batendo leve. Roubei-o para mim.
Vê-lo assim, entregue aos sonhos, só me deu mais certezas sobre como eu queria as coisas daquele jeito. Sobre como minha paixão era completa, complexa e verdadeira. Só quando ele acordasse eu conseguiria adormecer. E na certa era com ele que eu sonharia.
Eu adorava abraçá-lo, beijá-lo, acariciá-lo. Mas nada era mais profundo do que enxergá-lo ao meu lado, com os olhos fechados e a respiração leve, tranquila, exata. Era essa a paz de que tanto me falaram um dia. Era esse o amor que eu queria para mim, sem nem precisar pensar duas vezes. Sem nem precisar olhar para trás.

domingo, 16 de janeiro de 2011

Bilhete guardado

Ontem encontrei um bilhete de amor, timidamente rabiscado enquanto retornávamos de uma viagem por um paraíso qualquer.
Eu descobri o papel ainda um pouco amarelado, com um cheiro de coisa velha e uma marca grande de tempo percorrendo cada linha. Mas, sim, era a letra dele. Sim, era o amor dele. Sim, um dia havíamos sido nós.
Não sabia que ainda tinha lembranças físicas guardadas comigo. Mas aquela folha se anunciou e gritou uma história que eu ainda carregava presa na garganta. Aquela folha me disse mais do que eu conseguira ouvir quando ela foi escrita e se desenhou como um presente.
Senti a voz dele lendo aquelas palavras doces.
Sim, fora tudo real.
Disquei o número dele rapidamente. Ouvi um alô grave do outro lado da linha. Ele atendeu espantado e eu não sabia ao certo o que dizer.
"Obri...obriga...obrigada!".
E me pus a rasgar pedacinho por pedacinho aquela folha velha, amarelada, com frases de um tempo distante, com uma poesia que me reconstruiu. Amassei os pedaços maiores, joguei tudo pela janela e me senti refeita. Como uma folha que se mostra em branco. Como uma história outra qualquer, que um dia também viraria pó.

Poema do desamor

Obrigada por não ter me dado aquilo que eu esperava:
As frases mais bonitas nas horas apropriadas,
O sorriso mais leve e mais denso,
A cumplicidade da luz apagada,
O refresco do silêncio que cala a chuva,
O alívio de um tocar de mãos e de um entender de almas.
Obrigada por não ser o homem da minha vida
E por abrir com força os meus olhos,
Me empurrar com força pra frente,
Me dar certezas sobre a simples incompatibilidade de mundos.
Hoje eu sou e você não é.
Porque eu gritei e calei.
Porque eu senti.
Porque eu andei.
Obrigada por não ter feito parte de mim,
E por ter me ajudado a me encontrar.
Assim, leve, te agradeço
Por ter sido bom porque não durou.

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Aqui jaz mais um amor

...E acaba aqui mais uma história de amor, feita de personagens de carne, osso e um tanto assim de sentimentos, feita de cenas tristes, trágicas, melancólias. Feita de encontros marcados, esbarrões casuais e de dias puramente felizes a luz do luar, das estrelas ou debaixo da chuva torrencial.
Que o final foi feliz ninguém mais tem dúvidas, pois cada um foi para o seu canto levando uma mala cheia de boas lembranças. Cada um carregou nos ombros um riso escancarado guardado em uma noite que poderia ter sido normal e não foi. Cada um levou na memória uma tonelada de bons sentimentos, daqueles que não morrem e se reinventam.
Porque toda história de amor merece um final feliz, ainda que o destino seja a separação das almas, que se perderam pelo caminho, se desencontraram no espaço ou simplesmente pararam de ser completar.
Chega ao fim mais uma história de amor, num dia em que o sol desponta lá fora e o coração se encharca e se inunda de certezas, deixando para trás o pranto e a marca engasgadas em outros fins.
...E é hoje que essa história termina e abre espaço pra outras, tornando completa a página dos amores perdidos, dos amores vencidos, dos amores que falham, acertam, terminam. Até começar tudo outra vez.

domingo, 9 de janeiro de 2011

Sempre digo nunca

Sempre digo nunca.
Falo que não dá mais,
Que não é hora,
Que não é tempo,
Que o caminho é outro.
Mas sempre volto atrás,
Porque às vezes sinto que dá,
Acho que a hora é agora,
Penso que o tempo é hoje,
Sinto que não há outro caminho.
Vivo no baú das nossas contradições,
Dos meus medos,
Dos meus sonhos,
Das vontades irremediáveis.
Sempre digo nunca pra você e pra mim.
Porque o sempre é constante,
O nunca é efêmero,
E nós continuamos aqui.

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Ponto

Não escrevo pra ti,
Que pena!
Você não vale um poema.
Só vale um ponto final.

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Cartalma

Oi,

Suas lágrimas não secaram porque você esperou. Tampouco porque você enxugou. Suas lágrimas secaram porque você lutou, porque você confiou, porque você andou.
Nenhuma dor se cura sozinha. Você bem sabe porque a sua ferida cicatrizou. Foi porque você escolheu sonhar. Foi porque decidiu amar. Foi porque se deixou abraçar. E beijar. Foi porque se permitiu guiar.
Você sempre soube a hora de chorar e de esquecer. De parar de prometer. De doer. De se esconder. Foi por isso que você surpreendeu todos aqueles que queriam te ver caindo, se precipitando, murchando.
Hoje você só consegue sorrir. Só consegue reagir, ressurgir. Porque não precisou de nada além de vontade. Porque jamais se sentiu tão forte, tão certa, tão pronta. Porque a sua vida recém começou e agora você sabe exatamente o que fazer com ela. Corra.

Apresse-se.

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Felicidade...

Felicidade não se mostra.
Felicidade se sente.
Se não for assim, FIM.