sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Um adeus não muda nada

A minha geração aprendeu a dizer "tchau" de uma forma veloz e intensa. O tempo todo tem alguém se despedindo, arrumando as malas, buscando novos horizontes, novos amigos, novas promessas. O tempo todo tem alguém pronto pra pegar o primeiro ônibus pro lugar mais longe do mundo. Mas sempre tem os que ficam.
Se você ficou, saiba que a saudade é o sentimento mais sublime e honesto que alguém pode sentir. A saudade é o vazio de alguém que nos preencheu, simplesmente por estar perto. É a sensação de que certas coisas não voltam, mas precisam se consolidar em algum lugar seguro das nossas lembranças. É a vontade de repetir tudo que ficou lá atrás, em um tempo distante, que podia ter sido congelado pra nunca mais acabar.
Quem fica sempre sofre mais do que quem vai, porque está no cenário da saudade, passando por todos os lugares que despertam uma lembrança, uma pontinha de dor. Quem vai tem um mundão gigante pra explorar, coisas novas pra desvendar, outros amigos de quem se despedir.
Quando eu aprendi a dizer tchau, chorei como uma criança. Hoje me dói mais ver alguém partir. Ouvir um tchau é quase como um soco no estômago, ainda que eu saiba que não precisamos da presença pra termos as certezas.
Sempre que você for embora, alguém vai chorar escondido. Depois vai rir das graças que vocês viveram. E torcer pra que você seja feliz. Sempre que você ver alguém indo embora, vai fazer exatamente o mesmo.
Dar tchau virou quase a mesma coisa que dar oi. O que muda é a intensidade do momento, do gesto de adeus. O que muda é a percepção de que o amor sobrevive, se solidifica, mesmo que as temidas cinco letras te façam engasgar.

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Sobre te ver dormir

Me apaixonei quando vi ele dormindo.
É, a gente só tem certeza se é capaz de amar alguém quando consegue ficar horas olhando o respirar, os olhos fechados, o sono pacífico de quem nos cativou por inteiro.
Foi assim que pensei pela primeira vez em roubar todos os sonhos dele pra mim, em mergulhar lá no fundo, em encontrar suas causas, consequências, vontades, verdades. E como era lindo o jeito que ele se movia, sem perceber que eu estava em paz por poder admirá-lo num momento de absoluta intimidade.
Eu comecei a brincar com cada membro do corpo dele, na tentativa de mostrar que havia alguém ali, simplesmente apaixonada, velando cada segundo do seu desligar do mundo. Acariciei seu peito. Tentei me encaixar entre o seu ombro e o braço esquerdo. Ouvi o coração batendo leve. Roubei-o para mim.
Vê-lo assim, entregue aos sonhos, só me deu mais certezas sobre como eu queria as coisas daquele jeito. Sobre como minha paixão era completa, complexa e verdadeira. Só quando ele acordasse eu conseguiria adormecer. E na certa era com ele que eu sonharia.
Eu adorava abraçá-lo, beijá-lo, acariciá-lo. Mas nada era mais profundo do que enxergá-lo ao meu lado, com os olhos fechados e a respiração leve, tranquila, exata. Era essa a paz de que tanto me falaram um dia. Era esse o amor que eu queria para mim, sem nem precisar pensar duas vezes. Sem nem precisar olhar para trás.

domingo, 16 de janeiro de 2011

Bilhete guardado

Ontem encontrei um bilhete de amor, timidamente rabiscado enquanto retornávamos de uma viagem por um paraíso qualquer.
Eu descobri o papel ainda um pouco amarelado, com um cheiro de coisa velha e uma marca grande de tempo percorrendo cada linha. Mas, sim, era a letra dele. Sim, era o amor dele. Sim, um dia havíamos sido nós.
Não sabia que ainda tinha lembranças físicas guardadas comigo. Mas aquela folha se anunciou e gritou uma história que eu ainda carregava presa na garganta. Aquela folha me disse mais do que eu conseguira ouvir quando ela foi escrita e se desenhou como um presente.
Senti a voz dele lendo aquelas palavras doces.
Sim, fora tudo real.
Disquei o número dele rapidamente. Ouvi um alô grave do outro lado da linha. Ele atendeu espantado e eu não sabia ao certo o que dizer.
"Obri...obriga...obrigada!".
E me pus a rasgar pedacinho por pedacinho aquela folha velha, amarelada, com frases de um tempo distante, com uma poesia que me reconstruiu. Amassei os pedaços maiores, joguei tudo pela janela e me senti refeita. Como uma folha que se mostra em branco. Como uma história outra qualquer, que um dia também viraria pó.

Poema do desamor

Obrigada por não ter me dado aquilo que eu esperava:
As frases mais bonitas nas horas apropriadas,
O sorriso mais leve e mais denso,
A cumplicidade da luz apagada,
O refresco do silêncio que cala a chuva,
O alívio de um tocar de mãos e de um entender de almas.
Obrigada por não ser o homem da minha vida
E por abrir com força os meus olhos,
Me empurrar com força pra frente,
Me dar certezas sobre a simples incompatibilidade de mundos.
Hoje eu sou e você não é.
Porque eu gritei e calei.
Porque eu senti.
Porque eu andei.
Obrigada por não ter feito parte de mim,
E por ter me ajudado a me encontrar.
Assim, leve, te agradeço
Por ter sido bom porque não durou.

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Aqui jaz mais um amor

...E acaba aqui mais uma história de amor, feita de personagens de carne, osso e um tanto assim de sentimentos, feita de cenas tristes, trágicas, melancólias. Feita de encontros marcados, esbarrões casuais e de dias puramente felizes a luz do luar, das estrelas ou debaixo da chuva torrencial.
Que o final foi feliz ninguém mais tem dúvidas, pois cada um foi para o seu canto levando uma mala cheia de boas lembranças. Cada um carregou nos ombros um riso escancarado guardado em uma noite que poderia ter sido normal e não foi. Cada um levou na memória uma tonelada de bons sentimentos, daqueles que não morrem e se reinventam.
Porque toda história de amor merece um final feliz, ainda que o destino seja a separação das almas, que se perderam pelo caminho, se desencontraram no espaço ou simplesmente pararam de ser completar.
Chega ao fim mais uma história de amor, num dia em que o sol desponta lá fora e o coração se encharca e se inunda de certezas, deixando para trás o pranto e a marca engasgadas em outros fins.
...E é hoje que essa história termina e abre espaço pra outras, tornando completa a página dos amores perdidos, dos amores vencidos, dos amores que falham, acertam, terminam. Até começar tudo outra vez.

domingo, 9 de janeiro de 2011

Sempre digo nunca

Sempre digo nunca.
Falo que não dá mais,
Que não é hora,
Que não é tempo,
Que o caminho é outro.
Mas sempre volto atrás,
Porque às vezes sinto que dá,
Acho que a hora é agora,
Penso que o tempo é hoje,
Sinto que não há outro caminho.
Vivo no baú das nossas contradições,
Dos meus medos,
Dos meus sonhos,
Das vontades irremediáveis.
Sempre digo nunca pra você e pra mim.
Porque o sempre é constante,
O nunca é efêmero,
E nós continuamos aqui.

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Ponto

Não escrevo pra ti,
Que pena!
Você não vale um poema.
Só vale um ponto final.

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Cartalma

Oi,

Suas lágrimas não secaram porque você esperou. Tampouco porque você enxugou. Suas lágrimas secaram porque você lutou, porque você confiou, porque você andou.
Nenhuma dor se cura sozinha. Você bem sabe porque a sua ferida cicatrizou. Foi porque você escolheu sonhar. Foi porque decidiu amar. Foi porque se deixou abraçar. E beijar. Foi porque se permitiu guiar.
Você sempre soube a hora de chorar e de esquecer. De parar de prometer. De doer. De se esconder. Foi por isso que você surpreendeu todos aqueles que queriam te ver caindo, se precipitando, murchando.
Hoje você só consegue sorrir. Só consegue reagir, ressurgir. Porque não precisou de nada além de vontade. Porque jamais se sentiu tão forte, tão certa, tão pronta. Porque a sua vida recém começou e agora você sabe exatamente o que fazer com ela. Corra.

Apresse-se.

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Felicidade...

Felicidade não se mostra.
Felicidade se sente.
Se não for assim, FIM.