segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Amor que dói

O amor que dói é aquele que você não consegue gritar por medo.
O amor que dói é aquele onde não existe esperança, leveza, certeza.
O amor que dói é aquele que você não consegue explicar pro mundo.
Não explica, porque não entende.
Não entende, porque dói.
Pro amor que dói, não existe remédio. Só existe veneno.
E o veneno é a dor.
Que a dor não sufoque, mas cure o amor.
Que a dor não mate, mas acalme o amor.
Porque a dor não pode e não deve ser recompensa do amor.
Porque a dor não merece ser mais densa, mais certa, mais firme que o amor.
O amor que dói é aquele que está preso na garganta, junto a uma lágrima reprimida e a uma constante turbulência.
O amor que dói é aquele que dói até pra escrever.
Que nenhuma dor tire a essência do amor.
Que o amor vença o duelo.
Que floresça na lama, no pântano, na dor.
Que um dia, finalmente, pare de doer.Ou que morra, sem dor.

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Colo

Um sonho,
um grito,
um colo.

Um susto,
um rastro,
um colo.

Um arrepio,
um calafrio,
um colo.

Um medo,
um choro,
um colo.

Um logo,
um breve,
um colo.

Um consolo,
um solo,
um colo.

domingo, 11 de setembro de 2011

Surpresa

Ontem eu adivinhei tudo o que ele ia fazer. Me dar oi, um abraço (talvez tímido), rir ou comentar algo da noite anterior. Depois ia falar com a voz que eu conheço de cor, frases que eu já me acostumei a ouvir e que eu diria de trás pra frente se preciso fosse. Depois ia reagir do mesmo jeito de sempre a alguma gracinha minha. Ia virar o rosto, ia devolver a brincadeira e íamos falar mais meia hora sobre assuntos que sempre se colocam entre nós.
E então eu fiquei pensando por que eu sabia tanto sobre ele. A convivência nos faz captar os gestos, as expressões do outro. Eu conheço cada detalhe do rosto dele quando ele está cansado, feliz ou pouco tranquilo. Conheço as marcas de expressão e os detalhes do movimento que ele faz com as mãos e com os pés quando está parado.
E por conhecê-lo assim, tão bem, sinto falta das pequenas surpresas que ele poderia me causar. Quem sabe uma gargalhada inesperada. Ou um abraço deslocado no tempo e no espaço. Quem sabe um beijo na testa - eis um lugar improvável. Ou um carinho nos meus cabelos quando eu esperava uma advertência ou algo do tipo.
Sem surpresas, a vida é oca. E você é capaz de adivinhar tudo o que vem pela frente. E as tardes podem se tornar monótonas. As noites extensas demais. Tudo porque vocês se conhecem até a alma. E esquecem que a alma precisa de pequenas novidades, de movimentos que não nos permitam frear os sentidos.
O amor é feito de surpresas e de supreendidos. Quem não é capaz de surpreender, talvez seja pouco capaz de amar. Porque o amor é festa, é fantasia, é alegria. E nada disso combina com o tédio de uma situação que você é capaz de prever do início ao fim.

terça-feira, 6 de setembro de 2011

Do arco-íris

Tem dia em que a gente acorda cinza, ácido, áspero.
Em que tem vontade de gritar. Com os outros, consigo.
Em que não tem janela que nos faça espiar a calma lá fora. Tudo está cinza. E só a gente sabe por que.

Mas tem dia em que a vida se mostra em tons exageradamente fortes, vivos, intensos.
E o que era guerra, vira paz.
O que era dor, vira sorte.
O que era momento, vira eternidade.

Nos dias em que você estiver cinza, não se obrigue a ver cores onde não tem. Contenha-se; acalme-se; pondere; reflita.

Porque quando o azul começar a aparecer, o vermelho voltar a despontar, o amarelo surgir na sua janela, você vai ter certeza. Sim, você vai saber. E não tem nuvem de chuva lá fora que te obrigue a recuar.