segunda-feira, 28 de maio de 2012

Planos

Eu tinha planos pra você. Você seria minha até o fim da linha. Até a última esquina. Cantando alto, voando baixo. Minha no começo, no meio e no fim.
Mas você abdicou dos sonhos. Preferiu me guardar na sua cômoda velha. Juntou-me as traças do seu traje encardido. Moeu meus sonhos. Moeu a mim.
Eu tinha planos pra você e pra mim. Mas nós nos desencontramos. Você se desencantou. E eu fiquei do outro lado da rua, sentado, na chuva, repousando sobre o meio fio.
Dos meus planos, sobraram prantos.
Dos meus prantos, nada sobrou.

quarta-feira, 23 de maio de 2012

Greyci

Há pouco eu liguei para uma grande amiga para lhe desejar feliz aniversário. Relembramos, juntas, que nos conhecemos quando ela tinha 20 anos. Hoje, ultrapassou com dois dedinhos a barreira dos 30. E está cada vez melhor. Mais madura, mais bonita e, não tenho dúvidas, mais feliz.
A Greyci é uma das pessoas que sempre me faz pensar na minha evolução. É inevitável: há doze anos compartilhamos segredos (alguns espinhosos), sentimentos, risos e prantos. Perto dela, me vi menina e hoje me vejo mulher. Ao lado dela aprendi muito sobre a vida e sobre o amor.
Ter uma melhor amiga é uma daquelas coisas das quais jamais devemos abrir mão. Amigos são termômetros do nosso crescimento. Quando paramos de evoluir, ele apita. Quando retrocedemos, ele grita. E quando avançamos, ele fica mudo. Talvez com a perspectiva de nos mandar ir além.
Ao lado dela, passei por poucas, boas e melhores ainda. Aqueles momentos de gargalhadas intermináveis, sorrisos escancarados e também de um tanto de tristeza, com os outros, com a gente e entre a gente. Pensar nela é, inevitavelmente, pensar em mim nos últimos doze anos.
Ter uma melhor amiga é uma daquelas coisas das quais jamais devemos abrir mão. Amigos são elos afetivos sólidos que moldam nosso caráter e nos fazem ser sempre melhor. Por isso, a cada aniversário dela que passar, eu, subitamente e de forma egoísta, também vou pensar em mim. Porque em algum momento da nossa vida essa história se fundiu. E em algum ponto dessa trajetória a gente entendeu que era pra sempre.

segunda-feira, 7 de maio de 2012

Gente boa

Lembra daquela folhinha seca que caiu da árvore perto dos pés daquele menino pequeno, contente com a emoção do seu primeiro olhar? Eu o vi crescer, vi outras folhas nascerem e te vi florescer a distância, com a certeza de que amores perdidos não precisam ser doídos. Nem esquecidos. Não precisam fazer lacrimejar. Nem chorar. Não nos trazem lembranças tristes, mágoas pesadas, dores passadas.
Porque tem gente que não importa o momento, o tempo ou o vento. Tem gente nesse mundo que sempre vai merecer um abraço de verdade, uma palavra carinhosa, um olhar de afeto. Tem gente nesse mundo que nasceu pra merecer o bem. Só o bem. Você.

quinta-feira, 3 de maio de 2012

Rio

Eram duas crianças. Ela bem mais do que ele. Insegura, pequenina, vazia. Mas tinham o dom de se fazer sorrir e por algum motivo fizeram bem um ao outro. Ele com uma graça particular, uma voz fina e um sotaque arranhado. Ela com os trejeitos infantis que hora ou outra se manifestavam em apelidos e brincadeirinhas de meninas. Conversavam de um jeito cômico aos olhos dos outros e apaixonado, romântico aos olhos deles.

Um dia ela decidiu crescer e incinerar aquele amor. Deixou-o ocupar um lugar vago nas lembranças, que foram se perdendo à medida que o futuro desenhava-se sóbrio, adulto, sensato e nú. Recordava de momentos singelos, como no dia em que viu-o chorar diante de uma conquista dela. E do momento em que se reencontraram depois de um silêncio que durou a eternidade.

Lembrou dele após vê-lo beijando o ombro de outra moça, em uma foto que parecia cartaz de filme. Era a tradução de uma felicidade que compartilharam um dia, e que agora tinha consolo nos braços de outra. E de outro. Era o tempo se manifestando e mostrando rugas.

Os amores da gente são como um rio correndo. Vão. Não voltam. Não permanecem. Mas mudam de temperatura, de paisagem, de profundidade. Mudam de intensidade e de cor. Olhar aquela foto e lembrar do tempo em que os dois rios se cruzaram foi um exercício de reflexão sobre a vida e sobre o que aprendera até então. Não sentia saudade. Apenas uma profunda sensação de cansaço do tempo. Apenas uma doce certeza de que o amor não era um fim. Era um meio. Era um rio.