quarta-feira, 8 de julho de 2015

Mágoas

Das mágoas que eu guardei
De todas, todas elas
A melhor é poder rir
De você.

(para sentimentos não ditos, grite).

segunda-feira, 1 de julho de 2013

Namorar

Disse que namorar é brega.
E é.
Disse que namorar é chato.
E, às vezes, também é.
Disse que namorar é sorte.
De fato é.
Disse que namorar é amar.
E só por isso, sem dúvida alguma, é.

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Eis que ele estava sentado, balançando os pés, as mãos e o corpo inteiro, em um ritmo que desprezava seus oitenta e poucos anos. Os olhos verdes passeavam pelo mato e pelo mar, curiosos de um mundo que já lhe tinha apresentado tudo, ou quase tudo que queria conhecer. Respirou sutilmente o cheiro das folhas secas, da maresia. Postou-se diante dos pássaros, firme como um deles. Sonhador, voador.
Tinha, em todas as manhãs, a segurança da vida leve e o sofrimento da vida longa, aquela que lhe causava marcas, nódoas, cicatrizes intensas pelo corpo. Mas levantava-se e executava um rito, o rito do amanhecer, agradecer e viver, o mesmo que nos faz passar pelo mundo com coragem e altivez.
Falava baixinho coisas que não fazia questão que ninguém ouvisse. Murmurava saudades e filosofias. Abraçava lampejos de juventude, aquela que o corpo cansado não consegue acompanhar.
Um dia, levantou-se e foi embora. Aquele mundo não era mais dele, mas dos que ficaram. Ficaram para ser sua saudade. Ficaram para lhe lembrar.

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

À guerreira

Foste feita de dor e de cor.
Dor de amor,
Cor de amor.

Foste feita da fúria e da mansidão.
Olhos longe,
Pés no chão.

Foste feita de coragem e de medo,
De mansidão, de segredo.
Feita da sombra que te desenhou.

Foste feita de alma pura,
De guerra, de grito.
Feita da inquietude que te moldou.

Cuida, guerreira, porque és feita do encontro e de fuga.
De encontro vives.
Em fuga permaneces.

quinta-feira, 26 de julho de 2012

Hoje não

Te olhei com meus olhos negros e meus queixos trêmulos, te implorando pra fechar a porta com tudo dentro. Te despejei minha raiva, meu sono, meu grito, meu desasossego. Me joguei no teu consolo e no teu colo, sem saber que já era tarde - muito tarde. Te distrai do meu revés, te contei dos meus problemas, dos meus transtornos, da minha bipolaridade. Te amanheci com calor e dor. Mas não tive paz. Hoje não.

terça-feira, 26 de junho de 2012

saudade torta

A saudade é um pedaço torto do que te falta.
Um pedaço torto do que te faz reto.
Um pedaço torto em uma curva cega.
Cada vez que alguém sente saudade, o corpo se contorce, se encolhe, se entorta.
Pra dor da saudade não tem cura, não tem remédio, não tem certeza.
Porque a saudade existe pra nos lembrar de quem já fomos,
Pra nos lembrar com quem já estivemos,
Pra nos fazer doer.

Sinto a saudade me entortar.

segunda-feira, 18 de junho de 2012

Presente do ex

Ia jogar fora uma calça fora de moda dada pelo ex, mas preferiu vesti-la uma vez mais, pra ter certeza que o rompimento tinha lhe feito bem. A peça estava larga, deixava-lhe boiando, parecia de uma outra mulher - uma mulher mais insegura, mais feia, mais frágil.
Teve certeza que presentes de ex não servem pra ser jogados fora antes de ficarem fora de moda. Porque uma hora ou outra eles te farão ver, com todas as cores, que foi melhor assim. Você não só emagreceu: você cresceu. Sorri mais, chama mais atenção, se dá mais presentes. É mais segura. Mudou.
E quanto aos presentes que você deu pra ele, na certa não servem mais. Estão todos pequenos, pode crer.