quarta-feira, 20 de maio de 2009

Ela me deu feliz ano novo e eu chorei. Chorei mesmo, porque sabia que não estava no meu lugar.
Lembro que mal consegui falar, de tristeza por estar longe dos meus. E depois sorri, por senti-los presentes.
Talvez fosse o primeiro sinal das tantas barras que viriam depois. E era só o começo de um ano que me traria um bocado de desconfortos, mas outro tanto de convicções e ensinamentos.
Por isso se diz "feliz ano novo", mesmo quando não se está preparado para as sete ondas. Por isso falam tanto em mudanças, em passagem.

terça-feira, 19 de maio de 2009

Reencontros

Eu era o único elo entre as duas naquele momento. Não sei ao certo quantos foram os dias de silêncio. Talvez mais de quatro anos, considerando que a minha formatura fora o último encontro. Ou dez, pensando no dia em que tudo ruiu.
O abraço foi contido, como tinha de ser, mas me coloquei durante muito tempo na posição dela. Rever o passado é algo mais difícil do que eu possa supor. Pisar naquele azulejo frio novamente, sentir aqueles paredes tensas vibrando em torno de si, perceber fotos, quadros, trechos de uma vida inteira bailando na sua frente. Por isso devo admirar a imponência daquele momento tão singelo.
Os olhos encheram de água. Em frações de segundos, mil mensagens foram transmitidas em um tímido aperto de mão. E eu era o único elo entre as duas naquele momento.
Horas mais tarde, pensei que minha mãe, mesmo numa posição desconfortável, enxergava os limites daquilo tudo. E queria o passado longe, como deve ser. Quando ele volta à tona, é difícil medir os sentimentos e é difícil também entendê-los. Sim, eu era o único elo entre as duas naquele momento. Eu era o presente e o passado, imortalizada no silêncio, no fim da cumplicidade, nas lágrimas de saudade.

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Sobre santos

Enquanto o pai segurava a minha mão na sala de espera da clínica, eu olhava fixamente para dentro de mim. Muita coisa doía. O braço estava inchado, a cabeça não funcionava bem depois de horas de choro compulsivo, o coração se ressentia de uma semana de desapego. Era mais dor do que eu poderia suportar, mas eu não estava sozinha.
"Filha, você precisa rezar", ele me disse. Justo meu pai, que tantos anos renegou qualquer tipo de religião, mas que cedeu a ela depois de um susto sem tamanho. Talvez eu fosse ele naquele momento, em mais uma das tantas coincidências (e reincidências) que nos fazem pai e filha.
Pensei no assunto. Eu gosto de Nossa Senhora Aparecida, por ser negra. E de São Jorge, por ser guerreiro. Fora eles, não consigo me inspirar em nenhuma outra imagem, tampouco rezar, seja pra pedir, ou pra agradecer. Quando me dei conta que era agnóstica, sabia que enfrentaria problemas quando estivesse em meio ao caos.
No outro dia, uma devota de Aparecida esbarrou em mim. Pensei ser um sinal e comprei dela uma fita, um escapulário e uma oração. É bonita, a santa. Negra, forte e brasileira. Depois, comecei a pesquisar sobre São Jorge. Me disseram que ele também é santo da Umbanda. Gostei disso. Acho que me dou melhor com eles do que com os católicos fervorosos.
Não sei qual dos dois vai me ajudar. Não cheguei nem a rezar por eles, mas acredito que eles sabem da minha busca. Um deve ter olhado pro outro lá em cima. Talvez tenham exclamado algo do tipo "vai que é tua" diante da minha indecisão.
Meu pai sempre tem razão. E, sim, eu preciso rezar. Nem que seja pra mim mesma, pra que tudo isso passe logo.