terça-feira, 28 de dezembro de 2010
ABC de 2011
domingo, 26 de dezembro de 2010
Tempo errado*
*livremente inspirado histórias que eu vi, vivi e ouvi.
sábado, 25 de dezembro de 2010
Dançar a dois
terça-feira, 21 de dezembro de 2010
Um brinde às madrugadas
segunda-feira, 20 de dezembro de 2010
Cena final
sábado, 18 de dezembro de 2010
Equação do amor
sexta-feira, 17 de dezembro de 2010
Amar certo
quarta-feira, 15 de dezembro de 2010
Diferentes
segunda-feira, 13 de dezembro de 2010
28
quarta-feira, 8 de dezembro de 2010
A.
segunda-feira, 6 de dezembro de 2010
Sobre ir embora*
sexta-feira, 3 de dezembro de 2010
Fazer a mala
quarta-feira, 1 de dezembro de 2010
2010
segunda-feira, 29 de novembro de 2010
Com licença *
quarta-feira, 24 de novembro de 2010
De verdade
terça-feira, 23 de novembro de 2010
segunda-feira, 22 de novembro de 2010
Aparência
domingo, 21 de novembro de 2010
quinta-feira, 18 de novembro de 2010
quarta-feira, 17 de novembro de 2010
O último beijo
terça-feira, 16 de novembro de 2010
Sobre a relevância das (mil) lágrimas*
sábado, 13 de novembro de 2010
A bailarina
segunda-feira, 8 de novembro de 2010
Bem-vindo você
domingo, 7 de novembro de 2010
Remédio
sexta-feira, 5 de novembro de 2010
X + Y
quarta-feira, 3 de novembro de 2010
Ela anda só
quinta-feira, 28 de outubro de 2010
Micro-conto casual
segunda-feira, 25 de outubro de 2010
Ex.
Tem ex que é pra sempre, por mais que esse conceito esteja definhando no complexo dicionário do amor.
É pra sempre porque não importa se você esteja só ou acompanhada, vai lembrar da forma como ele sorria ou segurava a sua mão quando você sentia medo.
É pra sempre porque não importa quem seja a atual namorada, vão lembrar de você quando pensarem nele e no quanto vocês poderiam ter sido felizes se fossem mais pacientes um com o outro.
O seu eterno ex-namorado é aquele por quem a sua mãe, a sua avó e a prima do seu cunhado perguntam sempre, independente de quantos tenham vindo depois dele.
Ele é aquele que te remete pros melhores anos da sua vida, que geralmente só foram os melhores porque você tinha a melhor companhia para vivê-los.
Ele é aquele que você vai encontrar com um sorriso no rosto, não importa o tempo ou o quanto tenham magoado um ao outro no momento do adeus. Por ele você consegue chorar de dois em dois anos, quando inesperadamente lembra o que vocês poderiam estar fazendo juntos.
O melhor ex-namorado da sua vida é o homem que você encontrou no momento e no tempo errado, por mais que tenham feito tudo certo, por mais que tenham sido felizes nos instantes em que tinham que ser.
É o homem que você sabe que ainda poderia estar ao seu lado, não fosse um capricho da máquina da vida, que insistentemente achou que você precisava dele no seu passado, pra lembrar porque não deu certo. Pra tentar fazer dar certo depois.
Ele está lá, parado nos lugares em que foram um do outro, com a figura cada vez mais imponente, viva, bela e inatingível. E sempre que você pensar nele, vai sentir um amor dolorido, que consegue ser mais bonito do que os amores eternos, simplesmente porque é baseado na falta que sentem um do outro.
O melhor ex-namorado da sua vida não é um fantasma. Pelo contrário. É o homem por quem você deve suspirar aos 80 anos, mesmo que ele esteja a caminho do quinto bisneto. É o homem que você carrega em todos os seus sonhos. É o homem que te faz bem, por mais que o tempo tenha passado e o vento tenha levado vocês para cada vez mais longe.
O dia em que você reencontrá-lo, se é que deixou de vê-lo, seu coração vai bater forte, sua perna vai tremer como se você estivesse diante de uma nova paixão. Mas não está. Você está diante daquele cara por quem seu corpo sempre vai balançar porque viveu o melhor do amor ao lado dele. Você está diante do melhor ex-namorado da sua vida, aquele que você carrega feito pluma, embora pese toneladas de memórias na complexa balança do amor.
domingo, 24 de outubro de 2010
O herói e eu*
Ele não tinha nenhum superpoder que o distinguisse dos outros tantos homens fortes que moram nesse planeta. Mas era nascido na última lua de libra, sob um signo que moldou sua personalidade, ainda que desconfiasse de astrologia e outras "ciências afins". Sua capacidade era a de curar, de regenerar e renascer. Porque aos 31 anos se especializara em dar solavancos persistentes na vida. Nada o abalava tanto que não pudesse superar. Nada o martirizava tanto que não pudesse esquecer. Talvez por isso fosse tão difícil enxergar nele uma emoção secundária. Era feito de extremos e de silêncios contínuos. Acostumara-se a falar pouco, mas conseguia se fazer ouvir como ninguém. A voz de quem é necessário e essencial.
Ele foi o primeiro homem que eu não encontrei adjetivos para definir, embora persista com a ideia recorrente de biografá-lo. Porque ele foi o primeiro e talvez o único que tenha me convencido a chorar de alegria por tê-lo perto de mim. Porque foi o primeiro herói-humano que vi voar sem precisar de asas, de poderes, de alavancas. Porque era alguém que me bastava por ter me ensinado a amar de um jeito desconhecido e exageradamente suave.
Meu herói existe e agradeço todos os dias por ter cruzado com ele, num dia daqueles em que tudo podia ter sido normal e não foi, simplesmente porque decidimos nos encontrar.
*de presente, atrasado
terça-feira, 19 de outubro de 2010
Em menos de 140 caracteres
quinta-feira, 14 de outubro de 2010
Sobre um adeus
Encerrou a conversa naquela noite, inspirada por dezenas de sonhos e pesadelos que lhe penetravam como uma agulha cravando forte na pele já machucada. Porque desde muito cedo aprendeu a conviver com sentimentos de mentira e descartá-los como mereciam: inutilizando-os, deixando-os mortos em um canto escuro e trágico da sua memória cada vez mais embrutecida.
Cansou de ouvir que o tempo daria um jeito em tudo. O tempo não era o seu senhor. Não devia nada a ele e não podia contar com ele. Podia contar consigo, com as suas certezas. E só conseguia repetir, alto, que não tinha mais nada a fazer. Que tinha lutado contra todos os moinhos de vento. Que tinha erguido e reerguido peças de um castelo cada vez mais irreconhecível.
Queria saber em quais verdades assentara aquilo que acreditou eterno. Se na firmeza das próprias convicções ou na clareza que os momentos conturbados acendiam. Se no olhar zeloso e no afeto que lhe transmitia. Se em tudo ou em nada disso.
Precisava descobrir se fora tudo real como um dia imaginou ou se teria colhido mais uma decepção no campo dos sentimentos que morrem porque simplesmente não conseguem se fazer eternos. E dessa vez não era o tempo que iria lhe ajudar. Não eram as milhares de palavras que trocavam e ficavam pairando no ar, sem nunca construírem uma página sólida o suficiente.
Precisava ir embora com toda aquela tormenta que passara a carregar nas costas quando imaginava que tudo era definitivo. Porque de um dia para o outro entendeu que não era a responsável por manter de pé qualquer sentimento que pudesse morrer. Porque encerrou aquela conversa com uma frase pontual, que começara e terminara com um adeus.
quinta-feira, 7 de outubro de 2010
Amou
quarta-feira, 6 de outubro de 2010
*
sábado, 2 de outubro de 2010
O mais bonito da festa*
quinta-feira, 30 de setembro de 2010
Se você não chegar
Se você não chegar em meia hora, juro que vou gritar bem alto lá fora. Sim, vou gritar seu nome. Não, não vou sentir vergonha. Que venham os vizinhos, que cheguem os curiosos. A vergonha é inimiga da saudade. E eu não posso esperar mais por você.
Se você não chegar em uma hora, vou te encontrar onde você estiver. Vou procurar nos bancos das praças. Vou tentar te achar nos bares, nos bailes. Vou esperar na porta da tua casa. Vou sentar no meio-fio até você se materializar.
Se você não chegar em uma semana, vai me encontrar perdida. Vou ficar sem rumo, sem norte. Porque você sabe como me guiar. Você sabe como me enfrentar. Você sabe como me encantar.
Se você não chegar no próximo mês ou no próximo ano, ou quem sabe na próxima década, vai me encontrar inerte por aí. Perdida no tempo e no espaço em que você se foi. Lamentando as páginas que você rasgou. Apoiada nos planos que você desfez.
Mas eu sei, sei que você vai chegar. E vai agir como se não houvesse ontem. Vai rir das mesmas piadas de sempre. Vai me abraçar e me proteger. E vai continuar me fazendo esperar. Quem sabe mais um ou dois dias. Uma semana, um mês, uma década. É esse o tempo de nós dois.
quarta-feira, 29 de setembro de 2010
Composição
terça-feira, 28 de setembro de 2010
Despedida (Rubem Braga)*
E no meio dessa confusão alguém partiu sem se despedir; foi triste. Se houvesse uma despedida talvez fosse mais triste, talvez tenha sido melhor assim, uma separação como às vezes acontece em um baile de carnaval — uma pessoa se perda da outra, procura-a por um instante e depois adere a qualquer cordão. É melhor para os amantes pensar que a última vez que se encontraram se amaram muito — depois apenas aconteceu que não se encontraram mais. Eles não se despediram, a vida é que os despediu, cada um para seu lado — sem glória nem humilhação.
Creio que será permitido guardar uma leve tristeza, e também uma lembrança boa; que não será proibido confessar que às vezes se tem saudades; nem será odioso dizer que a separação ao mesmo tempo nos traz um inexplicável sentimento de alívio, e de sossego; e um indefinível remorso; e um recôndito despeito.
E que houve momentos perfeitos que passaram, mas não se perderam, porque ficaram em nossa vida; que a lembrança deles nos faz sentir maior a nossa solidão; mas que essa solidão ficou menos infeliz: que importa que uma estrela já esteja morta se ela ainda brilha no fundo de nossa noite e de nosso confuso sonho?
Talvez não mereçamos imaginar que haverá outros verões; se eles vierem, nós os receberemos obedientes como as cigarras e as paineiras — com flores e cantos. O inverno — te lembras — nos maltratou; não havia flores, não havia mar, e fomos sacudidos de um lado para outro como dois bonecos na mão de um titeriteiro inábil.
Ah, talvez valesse a pena dizer que houve um telefonema que não pôde haver; entretanto, é possível que não adiantasse nada. Para que explicações? Esqueçamos as pequenas coisas mortificantes; o silêncio torna tudo menos penoso; lembremos apenas as coisas douradas e digamos apenas a pequena palavra: adeus.
A pequena palavra que se alonga como um canto de cigarra perdido numa tarde de domingo.
* Obrigada, Rubem Braga, por dizer exatamente o que eu quis por tantas e tantas vezes.
segunda-feira, 27 de setembro de 2010
Pequeno conto sem fadas
quinta-feira, 23 de setembro de 2010
Um presente para a minha irmã
segunda-feira, 20 de setembro de 2010
De ninguém
domingo, 19 de setembro de 2010
Micro-explicação
sábado, 18 de setembro de 2010
Dez
quarta-feira, 15 de setembro de 2010
O dia em que você voltar
Eu sei que você vai voltar, mas não prometo te receber com o mesmo abraço. Muitas coisas mudaram por aqui. Desde o seu cinzeiro, que perdeu espaço na mesa, até a sua figura imponente, que não mora mais nas minhas lembranças. Não venha querer que eu seja a mesma que você deixou, porque tudo mudou desde a sua última partida.
Quando você entrar por aquela porta, arrependido pelos tropeços, pelos desacertos de uma vida desacreditada, deixarei que você fale o quanto precisar. Mas te lembrarei sobre a finitude do tempo, aquele tempo indomável em quem você me fez acreditar. Também te contarei sobre minhas últimas verdades, aquelas que você jurou que eu jamais faria questão de aprender.
Eu sei que você vai voltar e sinto diariamente os seus passos em minha direção. Não, não vou desviar com aquela covardia que você sempre guardou em si. Vou te receber com todas as certezas que tinha quando vi você descendo as escadas cambaleante, com mais dúvidas do que precisaria ter, com mais medos do que eu jamais tive.
O dia em que você voltar será um dia cinzento, cheio de nuvens, com um frio gelado que só os invernos mais rigoros são capazes de provocar. E então eu te darei a mão com ternura e te lembrarei porque você foi. Te farei sentar no sofá da sala e te observarei com cada centímetro da minha alma. Te olharei com o carinho de um tempo distante, aquele que não volta mais. Mas te pedirei desculpa por te deixar frente a frente com uma nova pessoa. Aquela que você destruiu. Aquela que você recompos.
segunda-feira, 13 de setembro de 2010
Sobre ir e vir
sexta-feira, 10 de setembro de 2010
O peso da sinceridade
quinta-feira, 9 de setembro de 2010
Quando você passou
sexta-feira, 3 de setembro de 2010
Um sentimento aí...
terça-feira, 31 de agosto de 2010
Recado para "o" homem
sexta-feira, 27 de agosto de 2010
O amor num piscar de olhos*
quinta-feira, 26 de agosto de 2010
Replay
segunda-feira, 23 de agosto de 2010
Desculpa
quinta-feira, 19 de agosto de 2010
O meu aviso*
segunda-feira, 16 de agosto de 2010
A última mulher
quarta-feira, 11 de agosto de 2010
A força dos cinco verbos
terça-feira, 3 de agosto de 2010
O que sobrou em mim
Eu ouço a sua voz soando baixo entre a vibração tensa das paredes que por tanto tempo nos cercaram. Ela continua aqui, me atormentando sempre que me sinto frágil, como um rastro de lembrança e de mágoa que deixam a ferida aberta.
Muita coisa aqui dentro me traz você. O isqueiro esquecido. Todos os pregos e furos na parede. A sacada em que você permanecia inerte, opaco e calmo, inebriado pela solidão que sempre lhe caiu tão bem. A persiana que nos protegia. O cobertor que dividíamos em dias de um frio intenso e de um calor voraz.
Te vejo agora entre os cômodos, sorrindo de um jeito que ainda não decifrei, mas que por muito tempo me trouxe paz e guerra. Você caminha lentamente, toca nos móveis, ajusta lâmpadas, arruma a antena, senta na cama, deita e adormece. Eu apenas observo o tempo passar, aliviada quando me sinto forte e submissa quando vejo que não tenho qualquer domínio sobre ele.
Hoje, você esteve presente em todas partes da casa e em todos os cantos de mim. Como se o ritual ainda não estivesse completo. Como se faltasse uma última verdade. Como se as coisas que você deixou fossem te manter eterno. Como se a tormenta ainda não tivesse passado de vez. Como se sua voz ainda morasse aqui.
sábado, 31 de julho de 2010
O sorriso e o refúgio
quinta-feira, 29 de julho de 2010
O amor chegou atrasado
Que não se mostrou antes porque é movido a presunções, temores e verdades mentirosas.
Que os relógios não andaram juntos.
Que não conseguia entender um terço dos sentimentos e, às vezes, gostava de confundi-los.
Que o amor chegou atrasado e era, sim, tarde demais.
Que o tempo não parara para que pudesse decidir acertar.
Que temia a imperfeição da rotina.
Que temia estragar a vida que lhe brotava.
Que para todos parecia óbvio.
Que para ela, não era.
Que o amor chegou atrasado ela sabia.
Sabia que não. Sabia que sim.
quarta-feira, 14 de julho de 2010
Cada vez mais certeza
Lembrei que há pouco tempo compartilhávamos histórias, planos e cobertas. Que dividíamos medos e sonhos. Que ouvíamos cada murmurar um do outro, com a dedicação que move os apaixonados. Que nos distanciamos em um momento de fúria, mas que foi melhor assim.
Enquanto teus olhos fugiam, os meus ficaram. Porque eu queria saber, ao certo, que tipo de lembrança ainda morava em mim. E te vi se distanciar com a impressão de que me deixara com fiapos de agonia e medo, que aos poucos perdiam espaço para a certeza, mãe da racionalidade.
Dificilmente voltaríamos a conversar sobre nós, mas aquele foi um diálogo entre almas. Porque eu sei que por detrás do teu olhar tímido, havia um pedido de desculpas, uma retratação. Por detrás do meu, havia o consentimento, a serenidade de quem compreendeu tudo.
A lembrança que mais me angustia é a mesma que quero guardar pra sempre, só para me certificar de que amores não morrem, apenas adormecem e se calam. Eu consegui ver o mar e sentir a paz do nosso primeiro encontro, quase como um ritual obrigatório de adeus.
E se pouco a pouco eu já te permitia ir embora, ontem soube que não havia mais nada seu entre as minhas partes. Nem um soluço ou uma lágrima de desapego. Te agradeci, ainda com os olhos, por ter me dado a chance de me reencontrar.
*esse amor hoje vai pra nunca mais voltar*
terça-feira, 29 de junho de 2010
Sobre os sonhos de Luiza
Não era a casa com cerca branca, móveis rústicos, em uma zona rural, com vista para o lago.
Não era o casamento perfeito, com noiva de véu, grinalda, e um sim coroado por fogos de artifício.
Não eram os três filhos, dois iguais a ele e uma igual a ela.
Não era a paz dos domingos de sol de frente para o mar.
Não era a fúria do encontro entre os corpos, mesmo depois de tanto tempo.
Não era o sorriso cúmplice nos momentos de reencontro.
Os sonhos de Luiza eram bem mais tímidos.
Queria que Lúcio a abraçasse nos dias de chuva forte.
E lhe soprasse baixinho no ouvido palavras engraçadas, que lhe abririam gargalhadas quentes.
Queria que tivessem aquela sintonia juvenil e se entendessem sem precisar manifestar meia palavra.
Queria que ouvissem a música do primeiro encontro e agradacessem um ao outro por estarem um no outro.
Queria levantar todas as manhãs e preparar o café de Lúcio, com as torradas que ele tanto gostava, acordando-o com os beijos e o amor de sempre.
Queria receber o café preparado por Lúcio e agradecê-lo com um inesperado golpe de amor.
Queria apenas a simplicidade e a paz que moravam nele e em todos os pedacinhos do seu corpo.
Mas por conhecer os sonhos de Luiza, dos quais ele próprio era o dono, Lúcio recuou.
Alvejou-os um a um com a munição mais certeira que tinha em mãos.
Jogou-os fora. Enterrou-os. E matou um pouco dela, também.
Agora, quando sonhava, Luiza permanecia acordada.
Fazia de conta que tudo era possível, ainda que pensasse o contrário.
Porque sonhar sempre faria parte dos planos dela, mesmo com as portas todas fechadas.
Porque se permitir não era mais um sonho, era uma necessidade.
Luiza queria ter sonhos só seus.
E unia a vontade de realizá-los a todos os sonhos perdidos em um canto ou outro de casa.
A casa, aquela, com cerca branca, móveis rústicos, em uma zona rural, com vista para o lago.
* Avisa que é de se entregar o viver.
sexta-feira, 18 de junho de 2010
Tarde vazia*
Foi rápido demais, pensou. Não, não foi. Foi lento como tinha de ser, com o tempo correndo contra, o relógio absorvendo cada centímetro de dor e transformando em soluço, depois em silêncio, depois em vazio e em alívio.
Observou os sentimentos do alto de uma maturidade atingida em sete dias de clausura e de gosto amargo. Julgou-os um a um. Desculpou-se por não ser amor, o sentimento eterno. Agradeceu porque viu o fio arrebentar com tanta força quanto a da última briga que protagonizaram.
Fora embora, não morava mais lá. Parou de chorar, uniu as pálpebras com força, entrelaçou os dedos, respirou fundo e se preparou. Porque o que estava diante dela podia ser maior, menor ou igual. Mas era, sim, uma promessa.
*Em memória de um amor, que um dia deixou de ser. Tchau!
quinta-feira, 17 de junho de 2010
Porque
Porque da sua imprecisão brotavam os primeiros sinais de recomeço. E do recomeço, brotava a ansiedade em coletar cada fragmento de vida que deixara para trás em nome do morto, do oco.
Porque de tudo que lhe disseram, do muito que lhe contaram, havia mais incerteza e mais inspiração do que qualquer passo a frente que pudesse dar. E tentar. E tropeçar. E andar livre, natural, sincera consigo e com o mundo. Porque fez da inexatidão, da imprecisão e do medo os seus melhores amigos, os seus parceiros fiéis.
"Eu ainda sou teimoso pra tristeza/Deixemos de coisa, cuidemos da vida".
domingo, 6 de junho de 2010
Como anda (corre) o relógio
Ele vai te levar pro trabalho. Vai te mandar mensagens doces. Vai te fazer rir sozinha.
Ele vai te apresentar pra família, como se você fosse a primeira e a última. Vai te mostrar os cachorros, o passarinho e o quarto de garotão.
Ele vai planejar as férias de vocês. Pesquisar roteiros, te fazer promessas. Vai levar a barraca e a bicicleta. Vai contar pra todo mundo, radiante, que é legal viajar a dois.
Ele vai te buscar no trabalho e te preparar um jantar. Vai dizer que gosta de brincar de casinha. Vai instalar tua persiana, tua máquina de lavar. Vai arrumar o chuveiro e te ajudar com a faxina. Vai dormir um sono profundo ao teu lado e te fazer pensar que a vida é leve.
Ele vai te abraçar tímido perto dos amigos. Vai te fazer enxergar que o tempo passa e que, não, a perfeição não existe. Vai deixar de te ligar toda hora. Vai esquecer das mensagens. Vai preferir dormir uma noite sozinho, porque tem coisas demais pra resolver. Vai beber mais do que devia, fumar mais do que devia, e te falar coisas que você pode nunca mais esquecer.
Ele vai te deixar em dúvida. Vai te fazer pensar sobre a instabilidade de vocês. Vai te propor um tempo, porque é melhor assim. Vai te fazer chorar. Vai te deixar com raiva. Vai te dizer adeus.
Parte dois
Você vai lembrar que as histórias de amor se repetem. E as de separação também. Vai pensar que já teve outra em seu lugar. E que haverá uma próxima, também.
Vai sorrir e chorar, sempre de forma exagerada.
Vai disfarçar em público.
Vai se encolher de medo.
Vai ver passar.
E só.
* Inspirado em http://canseidelero-lero.blogspot.com/2010/05/roteiro-requentado.html
quarta-feira, 2 de junho de 2010
O chão e a Lua
O chão do universo do possível, do palpável. Sentia o contato dos pés - desde o calcanhar, até a pontinha dos dedos - e arrastava-se de forma sútil, cravejando suor e banhando-se nele. Sim, os pés foram feitos para o chão. Nenhuma realidade alternativa, paralela ou mesmo fictícia seria capaz de desmentir isso.
Na lua, encontrou a inspiração.
Lá onde moravam os poetas, os românticos, os bobos.
Lá onde se aninhara durante tão pouco tempo, nas mínimas noites em que se supunha plena.
Na lua das grandes conquistas, da euforia, do efêmero que fica.
Quando se deu conta de que estar entre o chão e a lua não era uma mera questão de física - mas de semântica e de existência - viu-se pequena, mas radiante.
Porque só os grandes sábios conseguem ter desenvoltura para fincar os pés num e manter a mente noutra, alimentado-se do novo, do sonho, da vida.
quinta-feira, 20 de maio de 2010
2015 - Eu e você
"Nossa, que surpresa". "Pois é, né? Faz tempo". Trocamos breves palavras, eu te estendi a mão, agradeci o presente, te convidei pra entrar, pra sentar. "Fiquei com saudade". "Eu já imaginava que isso fosse acontecer". "É, esqueci que tu me conhece". "Não, acho que não mais".
O sorriso travou, eu sentei do teu lado e tentei te ouvir. Você pediu desculpas, disse que nunca mais me encontrou em ninguém por aí. Tentou me contar como foram seus últimos natais, ano-novos e férias. Fazia, sei lá, cinco anos. Eu te contei dos meus planos, te mostrei que não dava mais tempo. Te lembrei que a culpa era tua, e não minha. "Mas não podemos nem nos encontrar pra conversar às vezes?". "Não".
Você levantou, tentou me abraçar, eu respondi meio tímida. Disse tchau, bati a porta, até pensei em chorar. Tomei banho, vesti minha roupa, passei meu perfume, me pintei. Celular: três mensagens, duas chamadas não atendidas. Era ele, o da noite anterior. Ri. Retornei. Combinei um jantar.
terça-feira, 18 de maio de 2010
O momento de Lia
Mas não é um choro de tristeza, desses que calam a alma.
É de esperança.
Porque cada novo dia é, de fato, um dia novo
e ela começa a pensar em coisas que antes não pensava
e a rever planos, rever metas
e gira o corpo de um lado pro outro, na expectativa de que esse movimento lhe arranque todas as lágrimas.
O choro macio e fino já acostumou a vizinhança - eles sabem que, no fundo, nenhum sofrimento seria capaz de derrubá-la.
Depois de cumprido o ritual diário, ela finalmente se cansa e enxuga, gota por gota, o líquido quente e irresistivelmente salgado que permitiu nascer. Agradece timidamente a sutileza daquele instante, porque ele é menos intenso e mais cheio de significados, de vibrações e de plenitude do que fora ontem.
É assim que Lia acorda: renovando-se no momento em que se permite chorar e
projetando-se no momento em que precisa seguir. Agora, ela ri da contradição. Pois suas lágrimas são suas pernas, sua alavanca e sua promessa.
segunda-feira, 10 de maio de 2010
A paz do amor sereno
Ele sempre me disse mais do que eu queria e menos do que eu precisava.
Mas aprendi a estar atenta a ele. Ao vácuo que se forma e se transforma entre uma frase e outra. E ao riso que desponta entre ambos, quando o momento é de graça.
Contigo aprendo todos os dias, no sentido literal.
E se chego a me transtornar com tantas broncas e lições é porque continuo aprendendo.
Quando as lágrimas perdem a timidez,
Quando o sorriso ganha a cumplicidade e ignora todo e qualquer motivo palpável,
Quando estar longe passa a doer e a incomodar,
Quando o sentimento sobrevive mesmo diante das adversidades,
Quando o seu colo passa a ser o melhor lugar para estar,
Quando isso tudo acontece junto, ao mesmo tempo, agora
É sinal de que o amor tomou proporções extraordinárias, transcendentais
E ganhou outro nome
A-MI-ZA-DE.
Te amo por tudo.
Obrigada.
* Para Jesse Giotti, amigo por quem me apaixono dia após dia.
quinta-feira, 18 de março de 2010
sexta-feira, 12 de março de 2010
O canudo
Ela vai observar tudo de longe, talvez em sonhos, engolindo a seco as tormentas que viu passar sem poder apressar o fim.
Eles vão comemorar juntos, como mais uma das grandes conquistas que nos esperam e nos esperarão ao longo da vida.
Eu vou morrer de orgulho, porque é isso o que eu consigo sentir.
Ao meu pai e a minha irmã, minha eterna admiração por acreditarem um no outro. E a eterna certeza de que eu acredito neles com toda a força que guardo em mim.
quarta-feira, 3 de março de 2010
O aniversário do avô
Foi assim que vi meu avô soprar a vela dos seus 82 anos, cuidadosamente arrumadas no bolo pela companheira de 55 deles. Eu queria ser ele naquele momento, no auge de uma maturidade que só os homens verdadeiramente bons e fortes conseguirão atingir.
Era nele que eu me abrigava na infância. Perdia horas e horas rindo de suas histórias e dando passeios maravilhosos, que só lembro porque ele nunca esqueceu. Nas fotografias, registros de cumplicidade que nos pertenceu quando tudo o que eu mais queria era andar na areia e pedir um picolé - o Itu, o maior de todos.
Sempre me senti tão feliz ao lado daquele avô, que me culpei por ter crescido. Ele não, ele não mudou. Não fosse a fisionamia, eu poderia jurar que é o mesmo dos meus seis anos de idade, a quem eu esperava com ansiedade quando via o ônibus da Pluma chegar em Araranguá.
O tempo nos faz e desfaz, transforma nossos sonhos. Mas os dele não. Ele estava li, firme na sua pureza, aos 82, como estivera aos 30, 40, 50.
Eu me segurei pra não chorar quando o vi, tão menino, soprando forte as velas do bolo. Era muita história, muita vida e muito sentimento aprisionado naquele instante. E ele se pôs, leve como uma pluma, a esperar calmamente a chama do fogo cessar. Por isso eu lhe amava tanto: por ser vida, paciência e coragem. Por ser pura e simplesmente aquele homem que me ensinaram a chamar de vô.