terça-feira, 28 de junho de 2011

Para meu pai*

Eu acordava todo domingo com a casa cheia de música. Era o som exato da vida que morava lá. Fosse sol, chuva ou frio, ele cuidava para que a melodia nos preenchesse de alegria, de uma paz que poucos conhecem.
Demorou para eu me acostumar com silêncio. Mas todo filho vai embora um dia. Depois volta, com a mala cheia de certezas que o tempo consolida, com a expressão mais séria, enrugada. Com paisagens do mundo adulto, aquele que nos abraça com força, num extenso caminho sem volta.
Mas eu continuo sentindo a música todos os dias. Eu a escuto involuntariamente quando ele me liga e eu atendo, às vezes mal-humorada, porque acabei de acordar ou porque estou indo dormir. Eu ouça essas notas quando ele me olha e me abraça sem precisar me tocar. Eu escuto e canto essa música toda vez que a vida me coloca dúvidas e ele me enche de certezas.
Ele é o Pedro. Pedro Paulo, meu pai. Herói desde que o conheço. Amor, dedicação, zelo, cautela. Ele é o centro das minhas referências. Meu filósofo preferido (filósofo mesmo, de formação). Meu professor inesquecível (professor mesmo, por opção). Meu grande amigo, daqueles que aparecem na hora certa, no tempo certo e para quem eu posso chorar a qualquer momento do dia, da noite, da madrugada.
Eu sei que vou vê-lo envelhecer de longe. Que ele me criou para o mundo. Que dificilmente aquela música vai voltar a tocar de verdade. Mas eu também sei que nosso amor é inviolável e que não precisamos de mais do que isso para sermos eternamente um do outro.
Eu não consigo lembrar de nenhum momento difícil ou feliz em que ele não tenha estado do meu lado, celebrando minhas conquistas, me incentivando a voar. Segurando a minha mão, limpando minhas lágrimas. Ouvindo. Falando.
Aos 28 anos, não caibo mais naquele colo. Mas ele é o lugar onde eu poderia ficar para sempre. É o lugar para onde eu vou voltar toda vez que precisar. Porque eu sei, com uma certeza única, que Pedro, meu pai, sempre estará a minha espera com a mesma música. Com o mesmo amor.

*no dia do seu aniversário

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Urgente

O amor urgente
não é o pra sempre
é o pra já.


*#samba

domingo, 12 de junho de 2011

Busque

Me deu a mão no dia mais cinza dos últimos tempos. Eu agradeci, tímida, porque realmente precisava daquele alento, naquela hora, naquele instante. Eu arrisco dizer que, até então, desconhecia todas as dúvidas, os lapsos e as lacunas da palavra amor. Descobri tempos depois, quando sentei comigo mesma, dessa vez em um dia de sol a pino, e decifrei cada milímetro do que eu sentia. Eu não sabia ser coerente diante daquele novo mundo, que era tão cheio de dúvidas quanto de certezas firmes e categóricas. Eu não sabia ser sensata, equilibrada, normal. Teria de aprender, um dia, como uma criança que começa a ser alfabetizada e só consegue balbuciar sílabas. Mas eu me deixei levar. Tudo isso porque entendi.
*
Na minha vida hoje falta pouca coisa.
*
*
Não tenha medo das paixões.
*
Busque.