quinta-feira, 20 de setembro de 2012

À guerreira

Foste feita de dor e de cor.
Dor de amor,
Cor de amor.

Foste feita da fúria e da mansidão.
Olhos longe,
Pés no chão.

Foste feita de coragem e de medo,
De mansidão, de segredo.
Feita da sombra que te desenhou.

Foste feita de alma pura,
De guerra, de grito.
Feita da inquietude que te moldou.

Cuida, guerreira, porque és feita do encontro e de fuga.
De encontro vives.
Em fuga permaneces.

quinta-feira, 26 de julho de 2012

Hoje não

Te olhei com meus olhos negros e meus queixos trêmulos, te implorando pra fechar a porta com tudo dentro. Te despejei minha raiva, meu sono, meu grito, meu desasossego. Me joguei no teu consolo e no teu colo, sem saber que já era tarde - muito tarde. Te distrai do meu revés, te contei dos meus problemas, dos meus transtornos, da minha bipolaridade. Te amanheci com calor e dor. Mas não tive paz. Hoje não.

terça-feira, 26 de junho de 2012

saudade torta

A saudade é um pedaço torto do que te falta.
Um pedaço torto do que te faz reto.
Um pedaço torto em uma curva cega.
Cada vez que alguém sente saudade, o corpo se contorce, se encolhe, se entorta.
Pra dor da saudade não tem cura, não tem remédio, não tem certeza.
Porque a saudade existe pra nos lembrar de quem já fomos,
Pra nos lembrar com quem já estivemos,
Pra nos fazer doer.

Sinto a saudade me entortar.

segunda-feira, 18 de junho de 2012

Presente do ex

Ia jogar fora uma calça fora de moda dada pelo ex, mas preferiu vesti-la uma vez mais, pra ter certeza que o rompimento tinha lhe feito bem. A peça estava larga, deixava-lhe boiando, parecia de uma outra mulher - uma mulher mais insegura, mais feia, mais frágil.
Teve certeza que presentes de ex não servem pra ser jogados fora antes de ficarem fora de moda. Porque uma hora ou outra eles te farão ver, com todas as cores, que foi melhor assim. Você não só emagreceu: você cresceu. Sorri mais, chama mais atenção, se dá mais presentes. É mais segura. Mudou.
E quanto aos presentes que você deu pra ele, na certa não servem mais. Estão todos pequenos, pode crer.


quarta-feira, 6 de junho de 2012

Desculpa

Eu tinha nas tuas desculpas a minha doença mais sadia. Era delas que eu me alimentava quando sentia que havíamos errado. Era nelas que eu me espelhava quando me via torta entre um tombo e outro dentro daquele percurso meio guerra, meio paz. A última vez que você me pediu perdão, eu aceitei com remorso e angústia. Porque não sabia dizer não quando você reconhecia seus temores. E não sabia simplesmente esquecer, daí o tormento que nos acompanhava naquele instante de silêncio que precede a dor. Eu tinha nas tuas desculpas um elo com os meus sonhos e com as minhas ilusões. E acreditava nelas como se acredita em contos de fada e em histórias de amor sem fim.
E no meio desse vaivém entre um erro e outro, entre um pranto em outro, cheguei a pensar que eu estava errada. Louca e completamente errada.  Pois de desculpas não se vive. De desculpas se morre, apenas.

segunda-feira, 28 de maio de 2012

Planos

Eu tinha planos pra você. Você seria minha até o fim da linha. Até a última esquina. Cantando alto, voando baixo. Minha no começo, no meio e no fim.
Mas você abdicou dos sonhos. Preferiu me guardar na sua cômoda velha. Juntou-me as traças do seu traje encardido. Moeu meus sonhos. Moeu a mim.
Eu tinha planos pra você e pra mim. Mas nós nos desencontramos. Você se desencantou. E eu fiquei do outro lado da rua, sentado, na chuva, repousando sobre o meio fio.
Dos meus planos, sobraram prantos.
Dos meus prantos, nada sobrou.

quarta-feira, 23 de maio de 2012

Greyci

Há pouco eu liguei para uma grande amiga para lhe desejar feliz aniversário. Relembramos, juntas, que nos conhecemos quando ela tinha 20 anos. Hoje, ultrapassou com dois dedinhos a barreira dos 30. E está cada vez melhor. Mais madura, mais bonita e, não tenho dúvidas, mais feliz.
A Greyci é uma das pessoas que sempre me faz pensar na minha evolução. É inevitável: há doze anos compartilhamos segredos (alguns espinhosos), sentimentos, risos e prantos. Perto dela, me vi menina e hoje me vejo mulher. Ao lado dela aprendi muito sobre a vida e sobre o amor.
Ter uma melhor amiga é uma daquelas coisas das quais jamais devemos abrir mão. Amigos são termômetros do nosso crescimento. Quando paramos de evoluir, ele apita. Quando retrocedemos, ele grita. E quando avançamos, ele fica mudo. Talvez com a perspectiva de nos mandar ir além.
Ao lado dela, passei por poucas, boas e melhores ainda. Aqueles momentos de gargalhadas intermináveis, sorrisos escancarados e também de um tanto de tristeza, com os outros, com a gente e entre a gente. Pensar nela é, inevitavelmente, pensar em mim nos últimos doze anos.
Ter uma melhor amiga é uma daquelas coisas das quais jamais devemos abrir mão. Amigos são elos afetivos sólidos que moldam nosso caráter e nos fazem ser sempre melhor. Por isso, a cada aniversário dela que passar, eu, subitamente e de forma egoísta, também vou pensar em mim. Porque em algum momento da nossa vida essa história se fundiu. E em algum ponto dessa trajetória a gente entendeu que era pra sempre.

segunda-feira, 7 de maio de 2012

Gente boa

Lembra daquela folhinha seca que caiu da árvore perto dos pés daquele menino pequeno, contente com a emoção do seu primeiro olhar? Eu o vi crescer, vi outras folhas nascerem e te vi florescer a distância, com a certeza de que amores perdidos não precisam ser doídos. Nem esquecidos. Não precisam fazer lacrimejar. Nem chorar. Não nos trazem lembranças tristes, mágoas pesadas, dores passadas.
Porque tem gente que não importa o momento, o tempo ou o vento. Tem gente nesse mundo que sempre vai merecer um abraço de verdade, uma palavra carinhosa, um olhar de afeto. Tem gente nesse mundo que nasceu pra merecer o bem. Só o bem. Você.

quinta-feira, 3 de maio de 2012

Rio

Eram duas crianças. Ela bem mais do que ele. Insegura, pequenina, vazia. Mas tinham o dom de se fazer sorrir e por algum motivo fizeram bem um ao outro. Ele com uma graça particular, uma voz fina e um sotaque arranhado. Ela com os trejeitos infantis que hora ou outra se manifestavam em apelidos e brincadeirinhas de meninas. Conversavam de um jeito cômico aos olhos dos outros e apaixonado, romântico aos olhos deles.

Um dia ela decidiu crescer e incinerar aquele amor. Deixou-o ocupar um lugar vago nas lembranças, que foram se perdendo à medida que o futuro desenhava-se sóbrio, adulto, sensato e nú. Recordava de momentos singelos, como no dia em que viu-o chorar diante de uma conquista dela. E do momento em que se reencontraram depois de um silêncio que durou a eternidade.

Lembrou dele após vê-lo beijando o ombro de outra moça, em uma foto que parecia cartaz de filme. Era a tradução de uma felicidade que compartilharam um dia, e que agora tinha consolo nos braços de outra. E de outro. Era o tempo se manifestando e mostrando rugas.

Os amores da gente são como um rio correndo. Vão. Não voltam. Não permanecem. Mas mudam de temperatura, de paisagem, de profundidade. Mudam de intensidade e de cor. Olhar aquela foto e lembrar do tempo em que os dois rios se cruzaram foi um exercício de reflexão sobre a vida e sobre o que aprendera até então. Não sentia saudade. Apenas uma profunda sensação de cansaço do tempo. Apenas uma doce certeza de que o amor não era um fim. Era um meio. Era um rio.

sexta-feira, 13 de abril de 2012

Inspiração para o amor

O amor é tão quente e tão frio
quanto o é amargo e doce,
quanto o é de pedra e de nuvem,
quanto o é de certo e errado,
de verdade e de mentira,
de luz e de sombra.

O amor só não é o que é o ódio.
Apenas amargo.
Apenas pedra.
Apenas errado.
Apenas sombra.

O amor é o feroz e o manso,
o doente e o são,
a agitação e a calmaria,
a paz e a guerra.

O ódio é apenas feroz.
Doente.
Agitação.
Guerra.

O amor é amor lá no alto ou lá embaixo.
Louco, certo, simples, complexo. Completo.
Amor, de ar, de cor.

O amor é sorte.

terça-feira, 27 de março de 2012

Fique bem

Os olhos fecharam abruptamente e ela não entendeu o porquê.
Se era um sonho, não precisava acordar. Se era verdade, não precisava ser assim. Não desse jeito. Não agora.
E em cada fiozinho de lágrima que lhe percorria a face, surgiam as primeiras dúvidas sobre o que o futuro lhe reservara. O primeiro impulso foi temer. Mas o segundo foi esperar.
Porque a dor só passa quando a gente espera, pacientemente e conscientemente. Não passa quando a gente acelera o tempo. Não passa porque a gente precisa do hoje, agora. Para sarar, qualquer dor precisa de reflexão. De certezas. De um esfriamento gradual e paulatino. De paciência. Paciência.
Nenhuma dor é tão grande que a gente não possa carregar. Nenhum sofrimento é maior do que nossa sede de enfrentar, superar e aprender a ser.
Os olhos fecharam porque os dela precisavam se abrir. E quando se abrissem, o tempo - esse singelo aliado que se mostra inimigo - teria lhe curado todas as dores. Até essa, que parecia não ter como passar.

terça-feira, 6 de março de 2012

Cada grão de amor

Mirou-o com o olhar profundo e denso do amor.
Aquele que exige a presença,
Que permite o desejo,
Que vocifera paixão.
Guardava dentro de si cada miligrama desse olhar nada neutro e absolutamemte descompassado, fugáz como eram seus impulsos de medo, permanente como era a certeza de terem um ao outro.
O amor, esse relicário; o amor, essa verdade tomada de poesia.
Sentia cada passo em direção a ele como se uma corda invisível estivesse os aproximando da forma mais avassaladora que alguém poderia querer, pensar ou prever.
Nem de longe era amor o que sentira na vez primeira.
Amor era o hoje. E o amanhã. E o sempre.

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

A dor passa

Um dia eu sofri por amor.
Dói a cabeça. Os olhos. A pele. A boca. O peito.
Sempre que eu vejo alguém com o coração partido perto de mim, tenho vontade de dar a mão para a pessoa e dizer baixinho, naquele sussurro que só se anuncia aos mais atentos, que passa. Sempre passa.
Eu sou daquelas que perde noites em claro. Passa mal do estômago. Chora com filme triste e com filme alegre, mas vive intensamente o processo da cura. Processo esse que exige um pote de lágrimas, de descobertas, de redescobertas e, principalmente, de amor. Cura-se a doença com a própria causa da dor.
Quem já viu um amor (ou mesmo um projeto dele) ir embora, sabe de verdade que esses momentos são delicados, provocam marcas, apertam o peito. Mas também sabe que o que vem depois pode ser ainda melhor. Que a alegria de se sentir forte, ainda que só na estrada, é um prato cheio para novas conquistas. E um dia aquela dor, aquela lágrima persistente e aquele retrato escondido no quarto passam a ser uma marca sua, mas tão sua, que você percebe que se transformou. Geralmente, para melhor.
Nunca tenho vergonha de dizer que sofri muito mais do que uma vez. Mas foram sofrimentos bons, na medida em que me fizeram outra. O sentimento de se recompor é o melhor presente que o fim de uma história pode te dar.
Assim, se por uma coincidência tola do destino você veio me ler e está sofrendo deste mal, entenda que passa, sempre passa. Um dia você acorda sorrindo e dançando como uma criança. No outro você percebe que o mundo é grande e bom. No outro, pronto, a vida voltou. Perca um dia, um mês ou seis meses chorando. Permita-se rasgar algumas fotos. Reflita. Mas não esquece: é por pouco tempo. Confia em mim.

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Sinônimos

Tinha o sorriso mais doce,
mas levava uma lágrima amarga presa na garganta, pronta pra tomar os poros da sua pele sempre que o céu se fazia cinza.
Tinha a alma afogada no mar do amor,
que lhe lembrava a todo instante, a todo momento,
que sorrir e chorar podem ser sinônimos da mesma história nua, crua, concreta.
Real.

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Quando o coração acalma

...as palavras calam.

Um brinde ao silêncio ligeiro e certeiro que só a certeza do amor pode provocar.

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

O amor em três (ou mais) tempos

Nos últimos dias, tive pelo menos três oportunidades de refletir profundamente sobre o amor. A primeira aconteceu por circunstâncias da vida, em uma história que se resolveu com um final feliz. A segunda foi durante a leitura do best-seller Um Dia, livro de um escritor inglês que narra a história de uma amizade que amadurece e se transforma. Por fim, a terceira foi assistindo ao filme de mesmo nome, baseado no livro e bastante fiel a ele, embora tenha perdido muitas coisas boas que o autor aborda também.
Fiz esse rodeio todo porque queria compartilhar minhas reflexões com alguém.
Em todas as histórias, o amor não surge. Ele se constrói. Não é aquele tipo de relação que nasce de um beijo quente, de uma paixão fulminante, de um calafrio na espinha a cada aproximação. É algo muito além disso.
O amor não vive em um tempo só. Ou melhor, ele até vive. Mas acaba morrendo por falta de certezas, por decepções ou por circunstâncias alheias a nossa vontade.
Já o outro amor (esse sobre o qual escrevo e tão bem retratado no livro que me inspirou), é o avesso do avesso. Ele nasce devagar, sem pressa e sem que quase ninguém perceba. Nasce do conhecimento do outro, no processo inverso ao que mobiliza as paixões: primeiro você mergulha na intimidade, nos defeitos, nos problemas. E com base nisso, sim, você se torna muito mais capaz de amar.
Não estou dizendo que todo o amor deveria nascer de uma relação de companheirismo, de amizade ou de intimidade. Mas ouso dizer que esse amor é certeiro porque se consolidou no tempo, em dois, três ou mais atos, e que por isso está assentado de forma sólida, em uma base igualmente sólida, que é bem difícil deslocar.
Em um dos trechos do livro, Dexter (o protagonista garanhão) diz a Emma (a protagonista) que a vida é bem melhor quando ela está perto. É uma frase que resume o amor de uma forma simples e absurdamente honesta.
Mas pra gente chegar a essa conclusão, precisa conhecer muito bem os problemas do outro, os medos, as chatices e, agora sim, as delícias de compartilhar um dia ou dividir a vida. Sem isso, o amor não flui. Ele até vai andar, mas vai tropeçar nas verdades de conhecer intimamente, nas chatices de uma cara amarrada, nos solavancos de um sentimento que se precipitou.
Pra quem ainda não leu o livro ou não viu o filme, cuidado que aqui vem um spoiler. O final dessa história só é feliz porque o amor SEMPRE vai proporcionar finais felizes. Se não for feliz, é porque não era amor. Era paixão, era vontade, era desejo ou outro sentimento qualquer. Amor é uma coisa bem diferente. Ou não é?

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Dos dois

Sentiu a paz mais profunda, fechou os olhos e passou a viver do sonho que agora era real. Ele lhe secou as lágrimas, ergueu-lhe o rosto, tocou-lhe a alma. Sabia que era pra sempre, ainda que o sempre fosse aquela palavra vaga que temia escrever. Sabia que tinha um logo caminho diante de si e uma longa jornada por percorrer. Mas além disso tudo, sabia que era amor, que era verdade, que era certeza. E por isso deixou a vida vibrar modesta, singela e cheia de nós, nódoas e de fé. Deixou de ser uma pra ser dois. Pra ser dos dois, enfim.