terça-feira, 2 de junho de 2009

O baú

O nosso corpo é um baú de preciosas memórias.
Começa com o cheiro, passa pelo toque e termina no poder auto-destrutivo das lembranças que não querem morrer.
Foi assim que decidiu por fim em tudo. Já estava acabado, mas havia muitas reticiências no duelo permanente que travara consigo mesma. "Tá, vou ter que abrir as portas".
Mas quem disse que a gente tem o controle da nossa própria história?
Naquele mesmo dia, uma coincidência fez ambos se encontrarem. E permanecerem. E se tocarem. E conversarem sobre intimidades como se o mundo lá fora não tivesse visto o que viu. "Tá, e agora?", refletia, emparedada pelos mesmos dilemas de sempre.
Era como se as mãos dele jamais tivessem deixado de lhe acariciar. Como se aquele abraço não estivesse tão distante quanto de fato estivera. Como se o último beijo tivesse sido dado no dia anterior, aquele em que mal se cumprimentaram. Ela tinha certeza que o mundo parara naquele instante.
O corpo, baú de preciosas memórias, não deixou que as lembranças amargas estivessem entre eles naquele dia/noite de reencontro. Porque tudo era tão doce, tão intenso e tão deles, que nada seria capaz de fazê-la querer voltar atrás.