quinta-feira, 20 de maio de 2010

2015 - Eu e você

E eis que num belo dia de outono você me bate a porta com flores recém colhidas e me encontra de meias e roupão, com o cabelo desgrenhado, o rosto recém lavado, ainda com resquícios da maquiagem. Não, eu não te esperava. Como de costume, havia saido na noite anterior, conhecido mais um, dos tantos homens que te sucederam, rido, abraçado, beijado, trocado telefone e prometido ligar no dia seguinte.

"Nossa, que surpresa". "Pois é, né? Faz tempo". Trocamos breves palavras, eu te estendi a mão, agradeci o presente, te convidei pra entrar, pra sentar. "Fiquei com saudade". "Eu já imaginava que isso fosse acontecer". "É, esqueci que tu me conhece". "Não, acho que não mais".

O sorriso travou, eu sentei do teu lado e tentei te ouvir. Você pediu desculpas, disse que nunca mais me encontrou em ninguém por aí. Tentou me contar como foram seus últimos natais, ano-novos e férias. Fazia, sei lá, cinco anos. Eu te contei dos meus planos, te mostrei que não dava mais tempo. Te lembrei que a culpa era tua, e não minha. "Mas não podemos nem nos encontrar pra conversar às vezes?". "Não".

Você levantou, tentou me abraçar, eu respondi meio tímida. Disse tchau, bati a porta, até pensei em chorar. Tomei banho, vesti minha roupa, passei meu perfume, me pintei. Celular: três mensagens, duas chamadas não atendidas. Era ele, o da noite anterior. Ri. Retornei. Combinei um jantar.

terça-feira, 18 de maio de 2010

O momento de Lia

Sempre, ao despertar, Lia chora um pouquinho.
Mas não é um choro de tristeza, desses que calam a alma.
É de esperança.
Porque cada novo dia é, de fato, um dia novo
e ela começa a pensar em coisas que antes não pensava
e a rever planos, rever metas
e gira o corpo de um lado pro outro, na expectativa de que esse movimento lhe arranque todas as lágrimas.

O choro macio e fino já acostumou a vizinhança - eles sabem que, no fundo, nenhum sofrimento seria capaz de derrubá-la.

Depois de cumprido o ritual diário, ela finalmente se cansa e enxuga, gota por gota, o líquido quente e irresistivelmente salgado que permitiu nascer. Agradece timidamente a sutileza daquele instante, porque ele é menos intenso e mais cheio de significados, de vibrações e de plenitude do que fora ontem.

É assim que Lia acorda: renovando-se no momento em que se permite chorar e
projetando-se no momento em que precisa seguir. Agora, ela ri da contradição. Pois suas lágrimas são suas pernas, sua alavanca e sua promessa.

segunda-feira, 10 de maio de 2010

A paz do amor sereno

Não faz muito tempo, ouvi pela primeira vez o teu silêncio com atenção.
Ele sempre me disse mais do que eu queria e menos do que eu precisava.
Mas aprendi a estar atenta a ele. Ao vácuo que se forma e se transforma entre uma frase e outra. E ao riso que desponta entre ambos, quando o momento é de graça.
Contigo aprendo todos os dias, no sentido literal.
E se chego a me transtornar com tantas broncas e lições é porque continuo aprendendo.
Quando as lágrimas perdem a timidez,
Quando o sorriso ganha a cumplicidade e ignora todo e qualquer motivo palpável,
Quando estar longe passa a doer e a incomodar,
Quando o sentimento sobrevive mesmo diante das adversidades,
Quando o seu colo passa a ser o melhor lugar para estar,
Quando isso tudo acontece junto, ao mesmo tempo, agora
É sinal de que o amor tomou proporções extraordinárias, transcendentais
E ganhou outro nome
A-MI-ZA-DE.

Te amo por tudo.
Obrigada.

* Para Jesse Giotti, amigo por quem me apaixono dia após dia.