terça-feira, 18 de maio de 2010

O momento de Lia

Sempre, ao despertar, Lia chora um pouquinho.
Mas não é um choro de tristeza, desses que calam a alma.
É de esperança.
Porque cada novo dia é, de fato, um dia novo
e ela começa a pensar em coisas que antes não pensava
e a rever planos, rever metas
e gira o corpo de um lado pro outro, na expectativa de que esse movimento lhe arranque todas as lágrimas.

O choro macio e fino já acostumou a vizinhança - eles sabem que, no fundo, nenhum sofrimento seria capaz de derrubá-la.

Depois de cumprido o ritual diário, ela finalmente se cansa e enxuga, gota por gota, o líquido quente e irresistivelmente salgado que permitiu nascer. Agradece timidamente a sutileza daquele instante, porque ele é menos intenso e mais cheio de significados, de vibrações e de plenitude do que fora ontem.

É assim que Lia acorda: renovando-se no momento em que se permite chorar e
projetando-se no momento em que precisa seguir. Agora, ela ri da contradição. Pois suas lágrimas são suas pernas, sua alavanca e sua promessa.

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