quarta-feira, 6 de maio de 2009

Sobre santos

Enquanto o pai segurava a minha mão na sala de espera da clínica, eu olhava fixamente para dentro de mim. Muita coisa doía. O braço estava inchado, a cabeça não funcionava bem depois de horas de choro compulsivo, o coração se ressentia de uma semana de desapego. Era mais dor do que eu poderia suportar, mas eu não estava sozinha.
"Filha, você precisa rezar", ele me disse. Justo meu pai, que tantos anos renegou qualquer tipo de religião, mas que cedeu a ela depois de um susto sem tamanho. Talvez eu fosse ele naquele momento, em mais uma das tantas coincidências (e reincidências) que nos fazem pai e filha.
Pensei no assunto. Eu gosto de Nossa Senhora Aparecida, por ser negra. E de São Jorge, por ser guerreiro. Fora eles, não consigo me inspirar em nenhuma outra imagem, tampouco rezar, seja pra pedir, ou pra agradecer. Quando me dei conta que era agnóstica, sabia que enfrentaria problemas quando estivesse em meio ao caos.
No outro dia, uma devota de Aparecida esbarrou em mim. Pensei ser um sinal e comprei dela uma fita, um escapulário e uma oração. É bonita, a santa. Negra, forte e brasileira. Depois, comecei a pesquisar sobre São Jorge. Me disseram que ele também é santo da Umbanda. Gostei disso. Acho que me dou melhor com eles do que com os católicos fervorosos.
Não sei qual dos dois vai me ajudar. Não cheguei nem a rezar por eles, mas acredito que eles sabem da minha busca. Um deve ter olhado pro outro lá em cima. Talvez tenham exclamado algo do tipo "vai que é tua" diante da minha indecisão.
Meu pai sempre tem razão. E, sim, eu preciso rezar. Nem que seja pra mim mesma, pra que tudo isso passe logo.

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