quarta-feira, 3 de março de 2010

O aniversário do avô

O cabelo visivelmente branco não escondia nenhum fio da juventude que ali estivera. Tinha uma maciez impressionante. Tocar nele, era como deixar fios de seda acariciarem levemente a ponta dos dedos. No rosto, algumas rugas, um bigode bem formado e um sorriso tão presente que eu sequer imaginava como era a sua expressão de raiva ou de mágoa.
Foi assim que vi meu avô soprar a vela dos seus 82 anos, cuidadosamente arrumadas no bolo pela companheira de 55 deles. Eu queria ser ele naquele momento, no auge de uma maturidade que só os homens verdadeiramente bons e fortes conseguirão atingir.
Era nele que eu me abrigava na infância. Perdia horas e horas rindo de suas histórias e dando passeios maravilhosos, que só lembro porque ele nunca esqueceu. Nas fotografias, registros de cumplicidade que nos pertenceu quando tudo o que eu mais queria era andar na areia e pedir um picolé - o Itu, o maior de todos.
Sempre me senti tão feliz ao lado daquele avô, que me culpei por ter crescido. Ele não, ele não mudou. Não fosse a fisionamia, eu poderia jurar que é o mesmo dos meus seis anos de idade, a quem eu esperava com ansiedade quando via o ônibus da Pluma chegar em Araranguá.
O tempo nos faz e desfaz, transforma nossos sonhos. Mas os dele não. Ele estava li, firme na sua pureza, aos 82, como estivera aos 30, 40, 50.
Eu me segurei pra não chorar quando o vi, tão menino, soprando forte as velas do bolo. Era muita história, muita vida e muito sentimento aprisionado naquele instante. E ele se pôs, leve como uma pluma, a esperar calmamente a chama do fogo cessar. Por isso eu lhe amava tanto: por ser vida, paciência e coragem. Por ser pura e simplesmente aquele homem que me ensinaram a chamar de vô.

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