segunda-feira, 2 de maio de 2011

Novela

A mocinha quer que tudo dê certo.
Senta, espera, faz a unha, o cabelo, olha a janela, tira um cochilo, come uma fruta e dorme para sonhar.
Ela sabe que o mocinho está próximo. Que não pode dar um passo a mais, nem a menos. Que tem que rir com discrição e emoção. Que é melhor chorar escondida, pra não demonstrar todo o seu medo. Que é melhor ficar contida, pra não errar.
Todo dia tem um capítulo novo nessa novela. Nem sempre ela sabe o que sente. Quase sempre acha que sabe. Quando sabe, não age. Quando age, não sabe. Mocinha indecisa, essa. Faz comédia pastelão quando acha que é do drama. E no drama ela sempre cresce. Mas encolhe de medo depois.
O mocinho só observa. Calcula bem os seus passos. Nos capítulos que protagoniza, fala pouco, ouve muito e guarda tudo. Ele é mais razão do que emoção. Ao contrário dela, como tinha que ser. Ao contrário dela, como nunca deveria ser.
Como em toda a novela, o final pode ser previsível. Um dia eles vão se olhar e perceber que perderam tempo com besteiras. Que foram feitos um para o outro. Que sempre se amaram. Vão ter filhos, netos e uma casa de frente pro mar. Ou na montanha, quem sabe.
Mas o autor dessa mesma novela pode se rebelar, como faz vez ou outra. Deixar o mocinho cada vez mais confuso. Deixar a mocinha insegura. Levá-los cada um pra um canto, perdidos numa história que não tem rumo, nem rota. Se eu conhecesse o autor, conversaria de perto com ele. Faria um pedido insolente. Pelo final feliz, qualquer que fosse a escolha. Juntos ou separados, mas na mesma novela. No mesmo conto de fadas.

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