domingo, 11 de setembro de 2011

Surpresa

Ontem eu adivinhei tudo o que ele ia fazer. Me dar oi, um abraço (talvez tímido), rir ou comentar algo da noite anterior. Depois ia falar com a voz que eu conheço de cor, frases que eu já me acostumei a ouvir e que eu diria de trás pra frente se preciso fosse. Depois ia reagir do mesmo jeito de sempre a alguma gracinha minha. Ia virar o rosto, ia devolver a brincadeira e íamos falar mais meia hora sobre assuntos que sempre se colocam entre nós.
E então eu fiquei pensando por que eu sabia tanto sobre ele. A convivência nos faz captar os gestos, as expressões do outro. Eu conheço cada detalhe do rosto dele quando ele está cansado, feliz ou pouco tranquilo. Conheço as marcas de expressão e os detalhes do movimento que ele faz com as mãos e com os pés quando está parado.
E por conhecê-lo assim, tão bem, sinto falta das pequenas surpresas que ele poderia me causar. Quem sabe uma gargalhada inesperada. Ou um abraço deslocado no tempo e no espaço. Quem sabe um beijo na testa - eis um lugar improvável. Ou um carinho nos meus cabelos quando eu esperava uma advertência ou algo do tipo.
Sem surpresas, a vida é oca. E você é capaz de adivinhar tudo o que vem pela frente. E as tardes podem se tornar monótonas. As noites extensas demais. Tudo porque vocês se conhecem até a alma. E esquecem que a alma precisa de pequenas novidades, de movimentos que não nos permitam frear os sentidos.
O amor é feito de surpresas e de supreendidos. Quem não é capaz de surpreender, talvez seja pouco capaz de amar. Porque o amor é festa, é fantasia, é alegria. E nada disso combina com o tédio de uma situação que você é capaz de prever do início ao fim.

Nenhum comentário:

Postar um comentário