sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Ausência em outras palavras

Citou Vinícius de Moraes porque era a última chance de respirar aquele ar pesado que sentira. Não lembrou que o poeta preferido só cabia no coração dos apaixonados. Dos irremediavelmente apaixonados. Dos desastrosamente apaixonados.
Percebeu que seria incompreendida e ouviu um sorriso irônico, como se entregar-se fosse motivo para zombaria. O som da gargalhada contida imprimiu um eco quente, quase latejante, no fundo de um dos pedaços que, dentro dela, perdiam forma, perdiam cor.
A maior dificuldade do homem é dar adeus. Ninguém dá adeus por querer. O adeus é um ato insano e desesperado de quem quer ir e não pode. De quem quer ir e ficar. De quem já quis ir, mas nunca foi. Daí toda a sua dificuldade existencial em encarar essa palavra com naturalidade. E o seu medo quase imaturo das sequelas que um adeus sempre provoca.
Agora, toda vez que citasse Vinícius lembraria da sombra daquele momento, contornado de rancor, mágoa e de sonhos seus que cerraram junto com os olhos pequeninos e molhados. Logo Vinicius, aquele poeta que escreveu linhas retas pra corações tortos.
"Eu deixarei que morra em mim o desejo de amor os seus olhos, que são doces, porque nada te poderei dar senão a mágoa de me veres eternamente exausto". Repetiu duas, três vezes. Baixinho. Devagar. E deixou que aquele nó se desfizesse dentro dela. E que aquela lágrima escorresse definivamente pela última vez.

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