domingo, 13 de fevereiro de 2011

Na corda bamba

Porque se conheciam demais, viviam se equilibrando naquela corda bamba que separa o campo certo do abismo sem fim. Um passo errado seria o suficiente para destruir aquilo que alimentavam dia após dia, sem nenhuma certeza de que o final poderia ser feliz para qualquer um dos dois.
Mas arriscavam em nome de algo que era comum a ambos. Liberdade, eis a palavra que ela supunha essencial agora, depois de tanto tempo amarrada, entregue, desencontrada. Era a palavra preferida dele, a quem aprendeu a respeitar justamente por ser assim, livre como um pássaro.
Talvez um dia pudesse se arrepender. Talvez nunca mais fosse se arrepender. Talvez fosse mais fácil não se perguntar, deixar a onda levar, parar de pensar, de se reprimir, de tentar mudar a rota do incontrolável.
O ponto de interrogação passou a persegui-la. As dúvidas lhe bastavam mais do que qualquer certeza. Só não queria perder, embora gostasse de brincar com suas próprias lágrimas antevendo o dia em que precisassem finalmente apagar o que restara.
Pensou naquela linha do tempo, no dia em que seus caminhos se cruzaram sem pensar que era pra sempre. No dia em que decidiram ser claros. No dia em que decidiram não decidir nada.
Aquela corda em que gostavam de se equilibrar era o que amarrava um ao outro. O dia em que ela rompesse, estariam mudados para sempre.

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