quarta-feira, 2 de junho de 2010

O chão e a Lua

O chão era o lugar mais seguro no momento em que abriu os olhos. Chão, no sentido literal da palavra, onde fincava os pés com força, gosto e um tanto de melancolia. Estivera presa a ele por quantos e tantos instantes, calculando os passos, prevendo rotas, tropeçando e despencando insistiva e instantaneamente.
O chão do universo do possível, do palpável. Sentia o contato dos pés - desde o calcanhar, até a pontinha dos dedos - e arrastava-se de forma sútil, cravejando suor e banhando-se nele. Sim, os pés foram feitos para o chão. Nenhuma realidade alternativa, paralela ou mesmo fictícia seria capaz de desmentir isso.

Na lua, encontrou a inspiração.
Lá onde moravam os poetas, os românticos, os bobos.
Lá onde se aninhara durante tão pouco tempo, nas mínimas noites em que se supunha plena.
Na lua das grandes conquistas, da euforia, do efêmero que fica.
Quando se deu conta de que estar entre o chão e a lua não era uma mera questão de física - mas de semântica e de existência - viu-se pequena, mas radiante.

Porque só os grandes sábios conseguem ter desenvoltura para fincar os pés num e manter a mente noutra, alimentado-se do novo, do sonho, da vida.

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