sexta-feira, 18 de junho de 2010

Tarde vazia*

Acordou e soube. Não era mais dele. Não o sentia mais. Não o carregava mais na memória, no peito, na garganta. Viu que as coisas tinha mudado, desenrolou o primeiro e o segundo nó, agradeceu as paredes, ao chão e ao teto, zonza de alegria e de alívio. Não ia mais chorar ouvindo aquela música, nem se punir pelos pensamentos melancólicos e pela crônica falta de apetite.
Foi rápido demais, pensou. Não, não foi. Foi lento como tinha de ser, com o tempo correndo contra, o relógio absorvendo cada centímetro de dor e transformando em soluço, depois em silêncio, depois em vazio e em alívio.
Observou os sentimentos do alto de uma maturidade atingida em sete dias de clausura e de gosto amargo. Julgou-os um a um. Desculpou-se por não ser amor, o sentimento eterno. Agradeceu porque viu o fio arrebentar com tanta força quanto a da última briga que protagonizaram.
Fora embora, não morava mais lá. Parou de chorar, uniu as pálpebras com força, entrelaçou os dedos, respirou fundo e se preparou. Porque o que estava diante dela podia ser maior, menor ou igual. Mas era, sim, uma promessa.

*Em memória de um amor, que um dia deixou de ser. Tchau!

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