segunda-feira, 20 de setembro de 2010

De ninguém

Era o típico homem de ninguém.
Olhava para todas, mas não se revelava a nenhuma.
Declarava-se a todo momento, mas não guardava nenhuma palavra em sua caixa de verdades.
Sorria para elas, mas jamais conseguia chorar.
Beijava muitas bocas,
Conhecia muitos corpos,
Muitos cheiros,
Vivia desesperadamente em busca da próxima.
Aceitava todos os nãos porque sempre haveria um sim na sequência.
Fazia promessas e juras ao pé do ouvido, mas temia o momento de ter de cumpri-las.
Tinha medo do futuro com alguém.
Não se imaginava casando, tendo filhos, moldando-se a uma vida comum, estática.
Queria sempre mais,
Maior,
Mais intenso, ainda que efêmero.

Até que um belo dia sentiu o coração tremer.
Não era um belo dia de sol, era um agradável dia de chuva.
Questinou boa parte dos seus últimos anos de fé inabalável em si mesmo.
Entendeu grande parte dos sentimentos humanos que povoavam os apaixonados.
Chorou. Sofreu. Doeu. Passou.
E fez-inteiro.
Compreendeu o incompreensível.
Remediou o irremediável.
E jamais se deu ao luxo de amar novamente.

Era o típico homem de ninguém.
Aquele que se escondeu atrás de si mesmo.
Que tentou se entregar e não conseguiu.
Que ouviu "eu te amo" e recuou.
Que disse "eu te amo" e morreu.

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