sábado, 18 de setembro de 2010

Dez

Eu a vi chorando escondida. Não foi uma uma, nem duas vezes. Pensava que estava me protegendo. Não queria dividir a dor, que era, sim, muito maior do que ela naquele instante de perda. Como deixaríamos de ser quatro e passaríamos a ser UM?
A resposta era sempre o tempo. Ele que cura. Ele que remedia. Ele que adoça. Pacifica o espírito. Renasce em nós a cada instante. Respira conosco. Passa, tempo, passa.
Nas lágrimas dela, havia uma tonelada de desesperos. Eu enxergava todos eles, com poucas certezas e pouca maturidade. Só sabia que precisava dar um jeito de enxugá-las, de exterminá-las, de vê-las passar.
Eu a vi tentando sorrir para me acalmar, acelerando um processo de recuperação que deveria ser lento para ser verdadeiro.
Quando fui embora, vi que chorou de ternura e de comoção. Mas também de solidão, porque mais uma parte sua cerrava a porta que guardava seus sonhos. Mais uma parte sua ia embora para nunca mais voltar.
Eu compartilhei com ela uma década de sentimentos oscilantes, hoje bem certeiros, hoje bem seguros, hoje mais cheios de beleza do que de dor.
Eu vi, longe dela, o tempo passar e deixá-la inteira, sem fragmentos. Foi bonita essa recomposição. A vida deu-lhe rugas, um olhar mais intenso, uma gargalhada gostosa, contagiante. Deu-lhe um amor verdadeiro, companheiro, real.
Eu levei dez anos para ver o tempo se arrastar diante de mim. Dez anos para perceber que a lembrança dela, chorando escondida, ainda doi, mas me faz acreditar em qualquer coisa.
É uma dor bonita, que me ensina a respeitar o tempo e a medi-lo com base no peso da memória. Me faz olhar para aquela estrada sinuosa em que tantas vezes nos perdemos e para o caminho reto e belo que temos pela frente. Porque soubemos respeitar o tempo. Porque soubemos respirar a dor.
* Here comes the sun*

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