quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Um presente para a minha irmã

A gente tem irmãos porque precisa ser muito diferente de alguém.
Insistimos que não temos qualquer semelhança com eles quando alguém observa que rimos de um jeito parecido ou falamos do mesmo modo.
O irmão, não raras vezes, é o nosso oposto. Aquele em quem enxergamos todos os defeitos que também moram na gente e para quem despejamos conselhos sobre a vida, os mesmos de que tanto precisamos.
Ser irmão é uma tarefa difícil. É se equilibrar entre o ser amigo, professor e fiscal rigoroso. É ter a chance de conhecer o maior amor do mundo, mas deixá-lo suspenso até que a maturidade se apresente para ambos.
Eu não sei o que seria de mim sem minha irmã.
Primeiro, porque não teria a chance de ter meu extremo oposto. Somos absurdamente diferentes, mas mesmo assim conseguimos chorar e rir das mesmas coisas, muitas vezes juntas, dividindo o bom e o mau da vida.
Segundo, porque não teria tantas lembranças bonitas quanto tenho hoje. Ela quem ia de mãos dadas comigo para escolinha e me chamava para defendê-la nas confusões. Depois, ela que me apresentava amigas mais velhas e mais espertas do que as minhas. Na adolescência, me fez conhecer, sem querer, o meu primeiro amor. E chorou comigo quando eu descobri o quanto podia sofrer com isso.
Em todas as tempestadas, jamais me furtei da sensibilidade dela para entender o mundo. Todas as vezes em que ela foi embora, chorei por dentro. Fazia falta vê-la na cama ao lado, ainda que os nossos mundos tivessem certos segredos que os irmãos não podem saber ou entender.
Lembro dela me ensinando a ser só, quando eu, dramática, achava que o mundo estava prestes a desabar. Me fazia enxergar os caminhos que eu desconhecia, por teimosia e imaturidade. Me dava a mão e deixava que eu chorasse sem parar, até secar as lágrimas. Quantas vezes com toda doçura e paciência do mundo ela não me disse exatamente o que eu precisava ouvir?
A gente tem no mundo exatamente aquilo que precisa para existir.
E eu tenho alguém de quem posso me orgulhar todos os dias, por ter um coração gigante, um amor maior ainda e uma capacidade de me fazer sorrir e diminuir meus problemas.
Flávia é minha irmã que dança quaquer música, que canta alto no chuveiro, que cria tendências fashions, que briga quando está na TPM. Flávia é a irmã que se preocupa comigo e sempre procura aliviar meus pesos. Flávia é aquela pequeninha que voltou de uma temporada no hospital e me deu um abraço tão forte que comoveu meus pais. Flávia é o anjinho que está ao meu lado há valorosos 27 anos, desde que eu ainda morava no útero da nossa mãe.
E, sendo meu oposto, é alguém em quem eu posso me espelhar. Sempre.
Obrigada, mano. Que os seus próximos anos sejam ainda melhores do que os que passaram. Estarei neles.



*29 primaveras

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