domingo, 24 de outubro de 2010

O herói e eu*

Ele foi o primeiro herói pós-moderno que eu conheci, em um tímido dia de outono, quando tudo podia ter sido absolutamente normal e não foi.
Ele não tinha nenhum superpoder que o distinguisse dos outros tantos homens fortes que moram nesse planeta. Mas era nascido na última lua de libra, sob um signo que moldou sua personalidade, ainda que desconfiasse de astrologia e outras "ciências afins". Sua capacidade era a de curar, de regenerar e renascer. Porque aos 31 anos se especializara em dar solavancos persistentes na vida. Nada o abalava tanto que não pudesse superar. Nada o martirizava tanto que não pudesse esquecer. Talvez por isso fosse tão difícil enxergar nele uma emoção secundária. Era feito de extremos e de silêncios contínuos. Acostumara-se a falar pouco, mas conseguia se fazer ouvir como ninguém. A voz de quem é necessário e essencial.
Ele foi o primeiro homem que eu não encontrei adjetivos para definir, embora persista com a ideia recorrente de biografá-lo. Porque ele foi o primeiro e talvez o único que tenha me convencido a chorar de alegria por tê-lo perto de mim. Porque foi o primeiro herói-humano que vi voar sem precisar de asas, de poderes, de alavancas. Porque era alguém que me bastava por ter me ensinado a amar de um jeito desconhecido e exageradamente suave.
Meu herói existe e agradeço todos os dias por ter cruzado com ele, num dia daqueles em que tudo podia ter sido normal e não foi, simplesmente porque decidimos nos encontrar.

*de presente, atrasado

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