sábado, 2 de outubro de 2010

O mais bonito da festa*

Não era o homem mais bonito da festa, nem o mais inteligente, nem o mais promissor, nem o mais simpático.
Tinha um mau humor matinal típico. Às vezes gritava e falava alto. Xingava e buzinava no trânsito. Mostrava impaciência e implicância com coisas pequenas.
Ele gostava de ensaiar seus defeitos. E mostrá-los chegou a virar poesia, quase uma valsa que se dança lento e de olho fechado pra ninguém ver. Gostava de parecer tímido, inseguro e irreal. Também gostava de se equilibrar em fios de cobre suspensos no labirinto da imaginação dela.
Não tinha nenhum dom ou talento nato. Era cheio de símbolos preferidos. Tinha um dicionário de frases feitas e de cenas perfeitas. Fazia tudo parecer intenso o suficiente para se configurar eterno. Nascia de segundo em segundo, sempre com o mesmo apetite voraz.
Ele era um livro de defeitos prontos, de ausências medidas, de sintonia descabida. Errava tanto, que chegava a comover. Mas quando acertava sabia ser único em gênero, número, grau e etc.
Não era um homem bom nem pra casar, nem pra ter filhos. Mas era um homem bom pra existir. Pra ser o mais bonito da festa dela, o mais inteligente da festa dela, o mais promissor e o mais simpático da festa dela.
Por isso aprendera a sorrir. Porque enquanto fosse dela, não ia precisar ser nada além disso. Nada além do que era, de fato. Imperfeito, intenso, inexato, real, verdadeiro. Carne e osso. Corpo inteiro.

* dela




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