quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Sobre um adeus

Encerrou a conversa naquela noite, inspirada por dezenas de sonhos e pesadelos que lhe penetravam como uma agulha cravando forte na pele já machucada. Porque desde muito cedo aprendeu a conviver com sentimentos de mentira e descartá-los como mereciam: inutilizando-os, deixando-os mortos em um canto escuro e trágico da sua memória cada vez mais embrutecida.

Cansou de ouvir que o tempo daria um jeito em tudo. O tempo não era o seu senhor. Não devia nada a ele e não podia contar com ele. Podia contar consigo, com as suas certezas. E só conseguia repetir, alto, que não tinha mais nada a fazer. Que tinha lutado contra todos os moinhos de vento. Que tinha erguido e reerguido peças de um castelo cada vez mais irreconhecível.

Queria saber em quais verdades assentara aquilo que acreditou eterno. Se na firmeza das próprias convicções ou na clareza que os momentos conturbados acendiam. Se no olhar zeloso e no afeto que lhe transmitia. Se em tudo ou em nada disso.

Precisava descobrir se fora tudo real como um dia imaginou ou se teria colhido mais uma decepção no campo dos sentimentos que morrem porque simplesmente não conseguem se fazer eternos. E dessa vez não era o tempo que iria lhe ajudar. Não eram as milhares de palavras que trocavam e ficavam pairando no ar, sem nunca construírem uma página sólida o suficiente.

Precisava ir embora com toda aquela tormenta que passara a carregar nas costas quando imaginava que tudo era definitivo. Porque de um dia para o outro entendeu que não era a responsável por manter de pé qualquer sentimento que pudesse morrer. Porque encerrou aquela conversa com uma frase pontual, que começara e terminara com um adeus.

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