segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Cena final

Deixou que a franja caísse no canto esquerdo do rosto, misturando-se com leveza e precisão à lágrima que lhe cortava a alma. Como podia doer tanto? - era só nisso que ela conseguia pensar no instante em que as mãos firmes dele tentavam afastar seu cabelo e enxugar sua tristeza gota por gota. Como alguém que lhe fez sorrir tantas vezes conseguia agora lhe provocar essa enxurrada de agonia e de indefinição? Por que as gargalhadas tinham que cessar e ceder espaço a esse soluço que lhe partia inteira? Por que ela não conseguia decidir racionalmente e precisava temperar o que nem era uma despedida com tanto drama e desalento?
Subiu as escadas tonta, prevendo a tormenta do dia seguinte. E dos demais. Pensou tê-lo visto suspirar, sem saber se de angústia ou de alívio. Sem saber se tudo era fruto da sua imaginação. Na verdade, ele se mantinha inerte, sem mexer as mãos, os pés ou esboçar qualquer expressão. O que ele poderia entender, afinal? Eram delas todas aquelas coisas que se punham entre eles. Era dela a dúvida. E eram delas as lágrimas. Todas as lágrimas.
Não sabia pronunciar a palavra que deveria. Temia que saísse sem pensar. ADEUS. Era isso mesmo o que queria? Era disso que precisava? Por que tantas interrogações naquela hora da madrugada, com as estrelas testemunhando tudo?
Deitou pacificamente, tentando alinhar a franja que lhe impedia de ver, tentando esgotar as lágrimas que lhe turvavam, tentando fechar o olho e sonhar. Simplesmente sonhar. Um sonho bom, daqueles que ela pensou que poderiam viver um dia.

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