sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Fazer a mala

Sussurou a música que sempre cantava nos momentos de agonia.
Eram versos próprios pra arrumar a mala e tentar organizar toda a bagunça que se alojara na sua alma.
Dobrava o vestido, a saia, a calça, a camiseta, mas não conseguia encontrar lugar para as suas dúvidas.
Vivia de se fazer perguntas sem achar as respostas.
Adorava se questionar sobre o impossível, sobre o imponderável.
Quando conseguia a solução, tratava de se ocupar com outro problema. E depois outro, até cansar.
Conseguiu encaixar um par de sapatos no bolso da frente.
Continuou insistentemente com o refrão. Dizia coisas feitas pra ela, obviamente. Cantava toda a angústia que ela conseguia guardar nos momentos de partir. Fosse para ali perto, fosse para tão longe que ninguém mais pudesse alcançá-la.
Fechou o zíper e lacrou a mala com menos convicção do que nas outras vezes. Pretendia abri-la somente no seu destino final, onde finalmente conseguiria achar espaço pras suas verdades. Era pesada aquela mala. Mas pô-la no ombro era uma obrigação, uma meta. Deixou muito do que queria levar. Levou somente o que conseguia carregar. Parou de cantar a música e deu o primeiro passo.

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