terça-feira, 16 de novembro de 2010

Sobre a relevância das (mil) lágrimas*

Passou tanto tempo sem chorar, que acabou esquecendo do gosto e da importância de uma lágrima. Permitiu que ela fluísse rápido. Arrancou cada gota de dentro de si. Sentiu o alívio dos dias de paz. Perguntou porque o tempo era de guerra. Aumentou o som e postou-se diante do espelho, firme como jamais estivera. Encontrou mais um pouco de sonhos naquele líquido quente que se apoderava da sua pele, do seu rosto borrado.
Chorar novamente, depois de tanto tempo, era a chance de que precisava para crer-se livre de uma angústia latente, que não raras vezes a deixava com mais dúvidas do que certezas. Naquele momento, as lágrimas eram mais poderosas do que o seu eterno-sorriso-que-podia-não-dizer-absolutamente-nada. Porque elas deixavam tudo limpo ali dentro, como se tivessem a missão de lavar seus dias nublados.
Depois daquele choro muito mais compulsivo do que impulsivo, passou uns dois ou três dias sendo reticente e cuidadosa com qualquer manifestação de alegria efusiva. Era essa a paz de que precisava agora, para entender aquele turbilhão de emoções que vinha crescendo vertiginosamente. Não sofria, não temia, não queria calmaria. Mas precisava libertar-se de algo que não sabia o que era. E descobriu rápido. Precisava libertar-se das lágrimas que a habitaram durante meses a fio. Por isso se deixou chorar. Por isso acordou em paz.

*Chore bem, pra rir melhor.

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