sexta-feira, 5 de novembro de 2010

X + Y

Quando eu tinha cinco anos de idade, não desgrudava do Carlos Eduardo. Sabe, mãe, aquele menino que me levava pro balanço e ficava cuidando pra eu não cair? Pois então, acho que ele foi meu primeiro amigo homem e eu juro que não consigo lembrar da nossa história de amor ter passado disso. Não, ele não se declarou pra mim, nem eu pra ele, quando nos demos conta que gostávamos de passar boa parte das nossas horas juntos, rindo e brincando, como se o mundo precisasse de pouco - ou de quase nada - a mais do que isso.
Depois veio o Copoquio, lembra? Ah, eu devia ter uns seis anos e mudei de escola. Logo, mudei de amigo também. Meu primeiro desejo foi ter uma lancheira igualzinha a dele, mesmo sendo de menino. Pouco importa esse detalhe de gênero. Se ele era meu espelho, meu exemplo, por que evitar essa atitude dramaticamente feminista e pós-moderna? Pois então, mãe, não lembro de termos pulado a cerca da amizade. Ficou naquilo mesmo. Um sentimento puro e inocente, como tinha que ser.
Eu fui crescendo e passei a odiar os garotos. Não queria nenhum amiguinho perto. Eles só sabiam falar de carrinhos, de super heróis, de futebol. Eram assuntos chatos. Eu queria mais era brincar de barbie, pensar cor de rosa, montar casas de boneca. Afinidade zero com esses meninotes que pareciam cada vez menores do que eu.
Mas depois, adolescente, teve o Juliano*. Sabe aquele, que senta do teu lado na escola e vai virando meio cúmplice? Pois então, esse mesmo. Passávamos horas falando sobre o nada, compartilhando um amontoado de crises e de histórias que só têm espaço na cabeça dos púberes. Ontem ele me lembrou que a gente chegou a se beijar acidentalmente. Eu preferia ter esquecido, pra sustentar a teoria firme e forte que vou manter por aqui, de que o amor entre um homem e uma mulher não precisa ser carnal, entende?
Com ou sem beijo, a minha amizade com o Juliano dura uma era. Calculo que mais de 15 anos, intercalados por momentos de silêncio, mas que subitamente não parecem nada toda a vez que a gente se encontra e ri como se tivesse sido ontem.
E aí que na faculdade, o Juliano escolheu um curso, eu escolhi outro, e eu conheci o Paulo*. Paulo era um menino que eu tinha tudo pra odiar: muito mais inteligente do que eu, sério demais, quase mudo. Mas quis o destino que virássemos vizinhos, compartilhássemos longas caminhadas e jantares e cervejas e conversas e filmes-cabeça e porres homéricos.
Só que um dia ele precisou ir embora e eu fiquei. Não, ele não foi embora pra perto. Tá tão longe, que é difícil até de mantermos contato virtual. Outro lado do mundo, sabe? Mas quando ele voltar, seremos vizinhos novamente. Ah, como é bom sonhar.
Depois do Paulo, teve o José. E o Júlio, o Marcelo, o Renan, o Tiago. Acho que depois desses aí, eu desaprendi a contar. Porque foram tantos, e tão importantes, que eu decidi parar de estabelecer números pra essa intrincada matemática que me leva a estar sempre cercada dos homens mais legais desse mundo.
Então, eu escrevi até aqui, só pra te dizer que sim, eu acredito na amizade entre um homem e uma mulher. Não só acredito, como cultivo com o melhor que existe em mim. Dou meus conselhos, minhas cotoveladas, saio e tiro eles do sério. Deito a cabeça no ombro, abraço com carinho, compro presentes e até me dou o direito de sentir ciúme uma vez ou outra. Brigo bastante também, mas acho que eles aprenderam a aceitar meu temperamento descontrol. E quando me leem aqui, são só elogios e orgulho. Melhor do que namorado. Melhor do que um irmão que eu nunca tive. Melhor amigo.

* Nomes obviamente fictícios

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