quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Ela anda só

Entrou sozinha no bar, com um dos seus melhores vestidos, procurando uma mesa em que pudesse simplesmente sentar sem ser notada. Mas é claro que alguém iria percebê-la. Estava linda, exuberante, e absolutamente sem companhia. Pedia um, dois, três drinks e os homens não paravam de observá-la. O que passava pela cabeça deles naquele momento? "Por que ela não senta comigo?" ou "Será que está esperando alguém?".
Levou pouco mais de meia hora para que lhe pagassem uma taça de martini, bebida que ela não gostava por ser doce demais, contrapondo-se a sua personalidade meio amarga. "Aquele jovem lhe mandou isso", apontou o garçon. Riu timidamente e agradeceu com um aceno. Continuou seu diálogo com a solidão numa noite em que todos queriam companhia.
Lembrou das tantas vezes em que fora naquele mesmo bar em busca de conforto nos braços de um ou outro cara estranho ou da ilusão de que estar cercada de gente é menos dramático do que gostar de si mesma. Deu o primeiro gole na bebida que ganhara. Voltou no tempo e descobriu-se inacreditavelmente melhor.
Travou consigo mesma um longo e intenso diálogo. Estava só, muito mais bonita, madura e feliz, num bar em que todos procuravam desvendá-la, inclusive ela própria. Sabia que essa era a melhor opção agora: andar altiva e cercada da sua melhor companhia, que, naquele bar, era a cadeira vazia ao lado, o silêncio e o sorriso que conseguia brotar sem que alguém precisasse lhe fazer graça.
A meia-noite foi embora, caminhando devagar, com a leveza que o álcool acendia sobre o seu espírito cada vez mais livre. Chegou em casa entendendo mais sobre o mundo, convertida, com mil certezas e absurdamente em paz com seus últimos passos. Aquele tempo era dela e seria assim até que se descobrisse outra novamente.

*Apologia à solidão. Sim, às vezes todos precisamos dela.

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